O Globo: Sarney diz que massacres em presídios são ‘vergonha’ para o país
No Maranhão, sob a gestão de sua filha, 60 detentos foram mortos em 2013
POR JÚNIA GAMA
BRASÍLIA — Pai da ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), onde ocorreram massacres em presídios nos últimos anos, o ex-presidente José Sarney considerou uma “vergonha” para o país as matanças nas penitenciárias do Amazonas e de Roraima. Para Sarney, não se pode ficar “indiferente” às mortes.
– Acho uma vergonha para o país que essas barbaridades aconteçam. Não podemos ficar indiferentes à perda da vida humana. O Brasil está aceitando esses fatos como exercício do cotidiano. Só temos uma expressão: “valha-nos Deus” – disse.
O ex-presidente e ex-senador também criticou o ex-secretário nacional de Juventude do governo Michel Temer, Bruno Júlio (PMDB), que deixou o cargo ontem após declarar, ao GLOBO, que “tinha era que matar mais” presos.
– Foi uma coisa incompreensível. A juventude não pode pensar assim e acredito que ele não representa o pensamento dos jovens – afirmou.
Questionado se o governo federal está tomando as atitudes necessárias para lidar com a grave crise do sistema penitenciário, Sarney foi evasivo:
– Acho que o governo está diante de um fato que merece um tratamento diferente de todos os outros, porque ele lida com a crueldade e barbárie. Tenho impressão que o governo está com esse sentimento.
Sob a gestão de Roseana Sarney como governadora do estado, o sistema prisional maranhense viveu uma séria crise desde o fim de 2013, ano em que 60 detentos foram mortos em prisões do Maranhão, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ao menos quatro deles foram decapitados. Em 2014, ao menos 21 detentos foram assassinados no sistema – treze só no Complexo de Pedrinhas. No mesmo ano, ocorreram cerca de 15 fugas de presos no estado, sendo que mais de 80 detentos escaparam e apenas 14 foram recapturados.
Naquela ocasião, Sarney isentou a filha de qualquer culpa sobre a crise. À época, o CNJ apontou que a então governadora não cumpriu as recomendações do órgão feitas desde 2008. Na ocasião, relatos que chegaram ao Departamento Penitenciário Nacional (Depen) apontaram que o sistema carcerário do Maranhão era o pior do país.
A peemedebista, que estava em seu quarto mandato como governadora do estado, se eximiu de culpa sobre as ocorrências. A família Sarney controlou politicamente o Maranhão por cerca de 50 anos, se revezando no poder estadual com seus aliados, até que o adversário Flávio Dino (PCdoB) foi eleito para o cargo e assumiu em 2015.
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