charge abismo Líbero: Folha

O clamor da hora presente

Dando início a uma série de matérias envolvendo o sextou do coronavírus nas baladas da cidade, o blog abre a temporada divulgando que a Covid-19 não só mata mais, mata muito mais pretos e pardos no Maranhão, segundo dados de cor e raça do boletim epidemiológico de 16 de agosto.

Com a classificação do estado, especialmente a capital São Luís como “reduzido”, condição última antes de zerar a possibilidade de contaminação com a descoberta da vacina, enfrentamos o momento mais delicado nesses cinco meses de pandemia.

A redução significativa de novos casos e óbitos, acompanhada da desativação de leitos exclusivos Covid-19 dão aparência de normalidade que a todos pode contaminar.

A série pretende provocar uma reflexão sobre Governo, Sociedade Civil Organizada, universidades e Ministério Público.

O enfrentamento não é o da doença, mas da cabeça dura.

No clamor da hora presente, outra é a compreensão sobre quem meteu o terror na Praia Grande que, por essas ironias do destino, é também conhecido como Reviver!

O sextou a cada sete dias, cada vez mais assustador é prova inconteste que o modelo de comunicação vertical adotado não atinge a periferia pobre e desassistida da nossa capital.

Não se trata aqui de condenar ações do governo, pois os números, respiradores, UTIs comprovam o acerto das medidas; mas o de estabelecer um diálogo.

Resumindo: uma placa, alertando sobre a correnteza, não vai evitar que as pessoas morram afogadas.

Aguarde.

                                             ______________________

              A PARTE QUE LHE CABE NESTE LATIFÚNDIO

             55,5% dos mortos pela Covid no Maranhão são pretos e pardos

Ilustração/matéra/ Ponte Por-que-o-coronavirus-prejudica-mais-a-populacao-negra/

Dados divulgados no Boletim Epidemiológico do último dia 16 revelam que no Maranhão a Covid mata muito mais pretos e pardos do que no resto do País.

A relação entre o número de contaminados e o número de mortos traduz as péssimas condições socioeconômicas dos bairros periféricos da capital São Luís e do grande Maranhão profundo acometido por décadas de descasos e coronelismo político.

Pretos e pardos são 40,5% dos 136.853 mil casos e 55,5% dos mortos pela pandemia no estado.

A diferença de 15 pontos percentuais é praticamente o dobro da registrada no Brasil (61% e 55%) pelo Sistema de Vigilância da Síndrome Respiratória Aguda Grave.

A mortandade é resultado do racismo estrutural que condena os negros as piores condições de vida em todo o País.

De maneira mais acentuada em nosso estado, a falta de saneamento básico e de acesso aos serviços de saúde compõe o cenário na parte que lhes cabe habitar neste latifúndio.

Estudos realizados no Brasil e no exterior são unânimes em apontar as desigualdades socioeconômicas como vetor da alta incidência das comorbidades agravantes da Covid-19.

No entanto, os boletins epidemiológicos não dizem quais as cidades, as datas e os bairros, no caso de São Luís, dos negros vitimados pela doença.

Sem essas informações, a Secretaria de Estado da Saúde transforma a importância dessa iniciativa na formulação de políticas de combate ao coronavírus, em mero atendimento, embora tardio, de uma portaria de um ministério que sequer tem ministro.

Editada em 2017, ainda no governo Temer, portaria do MS tornou obrigatória a coleta de informações sobre raça/cor nos sistemas de informação pelos profissionais de saúde.

Outro sintoma próprio da pouca importância e desconhecimento da informação enquanto conhecimento que transforma é a raça ignorada e os amarelos que representam, respectivamente, 30% e 18,3% dos 136853 mil casos confirmados.

De onde saíram tantos amarelos e gente sem cor?

Não justifica dizer que foi por autodeclaração ou recusa de se autodeclarar, pois não se trata de um sistema de cota, mas de uma questão de saúde pública.

Justifica, porém – na verdade acredito que é só uma questão de ajustar o foco – que o secretário Carlos Lula desde que assumiu a secretaria tem enfrentado e superado a gravidade da megalomania do passado, a tentativa político-midiática de desestabilizar a saúde pública, e garantir, como garantiu, que ninguém perdesse a vida por falta de atendimento e UTI nessa pandemia.

 LEIA MAIS

População negra e Covid-19: reflexões sobre racismo e saúde

Coronavírus é mais letal entre negros no Brasil, apontam dados do Ministério da Saúde

Relação com trabalho e renda é indicado como fator de risco na pandemia
                                _____________________________

A próxima matéria será  sobre o site enquanto ferramenta que modifica e movimenta e a importância da comunicação pública nesses tempos de pandemia.

Tudo a partir de algumas informações divulgadas pelo Portal da Saúde que, além de não promover conhecimento, induzem ao etéreo e a incompreensão da morte na dimensão da vida.

E até mesmo, louco neste mundo é o que não falta, a certeza de que tudo na verdade não passa mesmo é de uma gripezinha!

Mas como já disse e acredito, é só uma questão de mudar o foco!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *