Após veto de Bolsonaro, vacinas brasileiras ficam sem verbas para testes em humanos
O jornal O Globo revela as ‘vacinas’ brasileiras não poderão iniciar os testes em humanos, após Bolsonaro cortar o financiamento previsto no Orçamento para pesquisas contra a Covid-19.
Com excessão da ButanVac, financiada pelo governo de São Paulo e um consórcio internacional, as outras candidatas a vacina com resultados positivos em animais, que também aguardam a autorização da Anvisa para dar início a etapa decisiva dos testes, dependiam dos recursos federais e estão ameaçadas de continuidade.
O caso mais emblemático é o da Versamune. O veto de Bolsonaro à emenda de R$ 200 milhões que garantiria os estudos para conter o rastro mortal do coronavírus, foi um dia após ele receber o ministro da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes e propagandear o projeto do imunizante em sua live semanal.
Pesquisada pela USP de Ribeirão Preto e a Farmacore, com recursos privados e do ministério do astronauta, a Versamune protocolou pedido para exames clínicos junto à agência horas antes do Butantã, instituto propaganda eleitoral do governador João Dória.
Procurado pelo O Globo, o Ministério da Ciência e Tecnologia não respondeu como manterá o financiamento.
Outros dois projetos promissores de vacina citados pela reportagem foram o da UFMG com a Fiocruz Minas, liderado pelo imunologista Ricardo Gazzinelli, e o da USP em parceria com Unicamp e Unifesp, sob o comando do imunologista Jorge Kalil.
Aliviado com o socorro de R$ 30 milhões da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, sem os quais a pesquisa poderia ser paralisada, disse a O Globo que no mundo todo estes estudos contaram com investimentos do governo, por se tratar de um investimento milionário e de alto risco para o setor privado.
Mas, no pátria amada Brasil de Bolsonaro seria ilógico um governo investir em projetos que não estejam à serviços dos interesses do Capital.
Em novembro de 1904 a população foi contra a vacinação imposta pelo governo. 114 depois, o governo é contra a vacinação da população.
A Revolta da Vacina: Mentes insanas em corpos rebeldes
A literatura sobre a chamada guerra da vacina geralmente se limita a revolta da população em reação ao uso da força do governo Rodrigues Alves para impor medidas sanitárias e a imunização contra a varíola, doença epidêmica que abatia brasileiros e estrangeiros em negócios na capital federal Rio de Janeiro.
A revolta da vacina , no entanto, segundo o historiador Nicolau Sevcenko, nos fornece uma visão particularmente esclarecedora sobre a “constituição de uma sociedade predominantemente urbanizada e de forte teor burguês no início da fase republicana, resultado do enquadramento do Brasil nos termos da nova ordem econômica mundial”.
Depois de serem violentamente despejados dos casarões e cortiços para dar lugar às largas avenidas com prédios de cinco ou seis andares no centro da capital, os milhares de pobres que ocupavam os morros do Rio de Janeiro foram instigados por políticos e jornais golpistas a rejeitar a vacinação obrigatória comandada pelo sanitarista Oswaldo Cruz.
Sevcenko nas 123 páginas do livro A Revolva da Vacina: Mentes insanas em corpos rebeldes traça um retrato idêntico ao promovido pelo governo Bolsonaro . Do falso atestado de óbito de uma mulher que teria morrido como consequências da vacina às campanhas morais e odiosas do senador Lauro Sodré, ressaltando que mães, irmãs, filhas, tias, avós teriam suas partes íntimas manipuladas por estranhos que invadiriam os lares da recatada sociedade brasileira.