Aos 97 anos, falece Irmã Alberta, uma lutadora incansável
Religiosa teve uma longa trajetória de luta junto aos mais excluídos do campo e da cidade no Brasil e na Itália
Brasil de Fato
“Se pudesse voltar atrás, voltaria a viver e lutar com os sem-terra. A vida com eles resume um pouco a minha vida de missão”, afirma irmã Alberta em entrevista realizada em 2016 à publicação Família Cristã. A história de Irmã Alberta Girardi, que faleceu na madrugada do último domingo (30), está marcada pela resistência e a luta. Nasceu na localidade italiana de Mestre, em Veneza, em 1921, um ano antes do ascenso do fascismo nesse país. Seu pai foi um antifascista declarado, e foi perseguido pelo regime de Benito Mussolini. Durante a Segunda Guerra Mundial, a casa onde morava junto a sua mãe e irmã, foi bombardeada, deixando uma parte dela totalmente em cinzas.
Em 1943 entrou para um convento em Veneza para trabalhar em um orfanato. Em 1951, Irmã Alberta foi enviada a Roma, onde criou, por sugestão do padre jesuíta e crítico cinematográfico Enrico Baragli, uma escola profissionalizante de cinema para jovens órfãs, o Centro Italiano de Adestramento Cinematográfico. Durante os 19 anos em que ficou à frente do centro, Irmã Alberta percorreu as cadeias da Itália procurando filhas de prisioneiros, a quem pudessem servir os estudos.
Chegada ao Brasil
A intenção de Irmã Alberta era ir para o continente africano, um bispo de Roma dissera-lhe que não haviam freiras na Somália, país criado em 1960 a partir das colônias inglesa e italiana nessa região do Chifre da África. No entanto, a Congregação de Don Orione a qual pertencia só lhe permitia ser missionária em países que já contassem com freiras da congregação. Assim, em 1971, Irmã Alberta é enviada ao Brasil, sob plena ditadura militar. Seu primeiro contato com a realidade do país é com os conflitos agrários. Ela foi enviada à região do Bico do Papagaio (antes pertencente ao estado de Goiás, agora de Tocantins), e trabalhou nos municípios de Araguaína e Tocantinópolis, onde denunciou a expulsão e assassinato de posseiros por parte das forças da ditadura em favor da expansão do agronegócio na região. Após quatro anos da criação da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1979, Irmã Alberta entra para a organização e trabalha junto com o sacerdote Josimo Moraes Tavares, a quem admirava, em suas palavras, por seu amor aos pobres. Em 1986, o sacerdote foi assassinado na sede da CPT Araguaia-Tocantins, em Imperatriz (MA), a mando de fazendeiros da região. No mesmo dia, a religiosa teve que abandonar a região, pois também havia sido ameaçada de morte. Ela se refugiou em Curralinho, no estado do Pará, onde ficou durante nove anos. Lá trabalhou em um pequeno hospital, e teve que fazer as vezes de vigário, já que a cidade não contava com pároco, atuando na formação de catequistas, trabalhando nas pastorais da família, dos doentes e da juventude.
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