Maria Aragão pode ser o primeiro nome do MA inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria
Senado aprova Projeto de Lei que autoriza a inclusão do nome da médica negra e comunista Maria Aragão no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. De autoria da senadora Eliziane Gama, o PL 761/2022 agora cumpre trâmite na Câmara, antes de ir à sanção do presidente Lula.
É a primeira vez que nome de maranhense é incluído na publicação, que há 31 anos reconhece oficialmente os heróis e as heroínas do Brasil.
Maria Aragão tem uma história de superação, que já lhe garantiria um lugar ao sol. Mas é a sua capacidade de pensar, produzir e agir sempre exercendo a atividade humana, seja na política; defendendo os direitos das mulheres, dos negros, dos operários e camponeses; seja na medicina, onde não se negava a atender gratuitamente quem batia no consultório; que lhe garantiu carreira e respeito.
Talvez com o propósito de evitar polêmicas desnecessárias, a senadora evitou justificar a trajetória política de Maria Aragão, marcadamente comunista, como exemplo de heroísmo e abnegação.
Evangélica, Eliziane Gama concentrou sua tese na mulher negra e pobre à frente de seu tempo.
Estudar, em plena década de 1930, era muita coisa para uma jovem negra do interior do Maranhão. Pobre, sem livros, estudava geografia no horário do recreio, no atlas fixado na parede da sala. Realizou o desejo de sua mãe, de vê-la “doutora”, formada no curso Normal, o que lhe permitiria ser professora. Mas Maria sonhava ser outro tipo de doutora. Maria queria ser médica, e fez também um supletivo para o curso ginasial, para poder prestar vestibular. Em 1934, aos 24 anos, Maria passou no vestibular para Medicina, no Rio de Janeiro”, ressalta.
“A dureza da vida, as desigualdades pelas quais passou, o enfrentamento ao preconceito, a condição feminina/negra, a personalidade destemida e a luta por uma sociedade justa e igualitária e pela dignidade humana tornam Maria Aragão uma das maiores heroínas de nossa Pátria”, justifica.
Resgate
Na sessão da Comissão de Educação, Cultura e Esporte, que aprovou em decisão terminativa o PL 761, que autoriza a inscrição do nome de Maria Aragão no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria A relatora do PL Jussara Lima (PSD-PI), fez questão de reconhecer a trajetória política da médica maranhense.
Ressaltou que Maria Aragão pagou caro depois que aderiu ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1945, após assistir a um comício de Luiz Carlos Prestes no Rio.
Destacou com veemência que ao retornar ao Maranhão para organizar o PCB foi “presa política em cinco ocasiões, e mesmo já idosa, durante o regime militar, foi vítima da abominável prática da tortura” — lamentou Jussara.
Na década de 1980, Maria Aragão seguiu Prestes e trocou o PCB pelo PDT. Esse fato também foi destacado pela senadora Leila Barros (PDT-DF).
O enterro da médica em São Luís, em 1991, foi seguido por milhares de pessoas. Em 2004, a capital maranhense inaugurou o Memorial Maria Aragão, projetado por Oscar Niemeyer e composto pela Praça Maria Aragão, um anfiteatro e um prédio, que virou um dos maiores espaços da cidade dedicado a shows e outros eventos culturais.
O Livro de Aço
Criado em 1992, o livro reúne protagonistas da liberdade e da democracia, que dedicaram sua vida ao país em algum momento da história. A inscrição de um novo personagem depende de lei aprovada no Congresso.
Até agosto de 2023, 65 títulos foram inscritos no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, sendo 51 homens e 14 mulheres. O que chama atenção e valoriza o Livro são nomes de personagens esquecidos pela ‘história oficial’, voltada a engrandecer os heróis da elite.
Em 92 quando da criação do livro, pobre só tinha oportunidade de ser herói nas grandes tragédias, onde por um acaso escapava, e por outro, conseguia salvar alguém. Outra possibilidade, quando era “voluntário” em missão suicida.
Líderes sindicais, de trabalhadores, negros, advogados fora do eixo, no máximo seus nomes constavam como ameaça debelada pelos heróis da elite, os borbas gatos da vida,,,
O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria chega aos 31 anos sem os riscos de legar para o futuro personagens incondizentes com a civilidade, justiça social e o estado democrático de direito; comuns nas entregas de medalhas e em publicações de reconhecimento pago dos atos heroicos de cada ano.
Entre os heróis e heroínas brasileiros, estão nomes como Anita Garibaldi, Chico Mendes, Zumbi dos Palmares, Zuzu Angel, Margarida Alves. Confira lista completa Aqui
Composto por páginas de aço, o livro fica depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
LEIA PL DE ELIZIANE GAMA QUE AUTORIZA INSCRIÇÃO DE MARIA ARAGÃO NO LIVRO DOS HERÓIS E HEROÍNAS DA PÁTRIA
Com informações da Agência Senado