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  • Elite brasileira tem de ter menos espírito de Miami, diz Flávio Dino

    Folha de SP – “Comunista graças a Deus”, Flávio Dino (PC do B) começou a governar o Maranhão com a imagem de um só santo, são Francisco de Assis, em seu gabinete. Três anos depois, tentará a reeleição com dez santos na bancada.

    De frente para sua mesa, a mesma que foi de Roseana Sarney (MDB), sua adversária política, Dino pregou uma tela da Muralha da China (“uma lição de paciência”), ornando com bustos do comunista Mao Tsé-Tung e o socialista Salvador Allende.

    A vista da sacada do Palácio dos Leões, para onde Dino escapa quando precisa espairecer, não o deixa esquecer o desafio que é governar o Estado mais pobre do país, segundo o IBGE. Seu horizonte é uma favela erguida sobre palafitas ao lado do metro quadrado mais caro de São Luís, no forte da ponta de São Francisco.

    Flávio Dino, então candidato do PC do B ao governo do Maranhão, participa de encontro com evangélicos

    Em entrevista no dia 13, ele declarou apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a despeito da pré-candidatura de Manuela D’Avila, de seu partido.

    Folha – Maranhão hoje é compatível com o tempo que vive?

    Flávio Dino – Eu brinco que esse negócio do Juscelino, de 50 anos em 5, era fácil. Aqui são quatro séculos em quatro anos. As pessoas terem escola de tijolo, não de palha ou barro, é uma agenda do século 18. As pessoas terem acesso a careira de identidade é século 19. Ao mesmo tempo, temos uma agenda do século 20 e 21, escola em tempo integral, programa para mandar nossos estudantes para estudar no exterior. Não tivemos greve, pela política respeitosa com os servidores. Aqui a gente não debate o Estado mínimo.

    Por quê?

    Aqui o povo quer serviço público. Se não for o Estado, não é ninguém.

    Como as candidaturas que propõem um enxugamento do Estado vão se sair?

    No Nordeste, muito mal. Porque é quase que uma incompatibilidade ontológica, de essência. A reforma da Previdência vai virar um peso nas costas de quem a defender. Claro [que sou contra], e a trabalhista é pior ainda. Esse neoliberalismo vulgar que às vezes um Amoedo (Novo) da vida professa não tem aderência à realidade brasileira.

    Há exasperação com a revelação de que o tamanho do Estado possibilitou corrupção.

    Mas isso é puramente ideológico. É verdade que havia infelizmente corrupção na Petrobras, por exemplo, mas quem estava ao lado? Grandes corporações privadas. Então, se fosse extinguir o Estado porque é corrupto, ia extinguir o mercado junto.

    A Lava Jato criou distorções?

    A Lava Jato criou uma narrativa em que os empresários, que eram o chapeuzinho vermelho, bonzinhos, foram extorquidos pelo lobo mau, que era o Estado. Pelo amor de Deus! Todo mundo sabia o que estava fazendo. A Lava Jato acertou mais que errou, mas errou nesse ponto fundamental, por incompreensão ou conivência. Não critico tanto as decisões.

    A de Sergio Moro contra o Lula o senhor critica.

    É um escândalo, uma monstruosidade jurídica. O leitor pode dizer: é porque ele apoia o Lula. Primeiro, o Lula nunca me apoiou aqui.

    Vai apoiar em 2018?

    Eu espero. Sou cristão, acredito em coisas boas. Como você vai dizer que ele é dono de um apartamento que comprovadamente está no patrimônio de um banco? Aí sim a instrumentalização da Lava Jato atende a certos interesses que hoje não estão claros.

    Seu irmão Nicolao Dino é próximo do ex-procurador-geral Rodrigo Janot. Como vê a atuação do grupo?

    Janot errou. Podia ter evitado o caos político e jurídico em que o Brasil se meteu e ele aderiu. Por quê? Não sei dizer.

    O presidente Temer não indicou seu irmão, mas Raquel Dodge para suceder Janot.

    Tenho a impressão de que Raquel não vai na direção de ser arquivadora-geral. A indicação de Fernando Segovia na Polícia Federal, apoiado por Sarney, vinculado politicamente a uma certa posição [é mais problemática]. É difícil qualquer pessoa dizer que vai parar a Lava Jato.

    Ainda tem vida longa?

    Tem, porque tem os filhinhos dela, netinhos. a família é grande. Vai continuar até que a política se rearrume. Ela virou o principal polo de poder do país, porque não tem outro. Depois das eleições, a força da Lava Jato tende a diminuir, porque é uma anomalia ter um conjunto de profissionais não eleitos com esse poder de ditar o ritmo do país.

    O senhor quer o apoio do Lula no Maranhão, mas seu partido tem outra candidatura.

    Há a compreensão de que, no Maranhão, pelo sarneysismo, precisamos fazer uma aliança ampla. Palanque aberto. Ainda tem o Ciro Gomes, o PDT é um aliado nosso.

    Quem é o melhor?

    Os três têm suas virtudes. Não posso dizer em quem eu vou votar porque dá ciúme.

    Não vai votar no seu partido?

    Se Manuela estiver na urna, voto nela, claro.

    Lula irá até o fim?

    Lula deve manter a candidatura até o limite. A candidatura dele é fundamental, imprescindível. Só há eleições livres com ele sendo candidato, não há razão para não ser, a não ser um processo de lawfair, de perseguição judicial. Pergunte a um cidadão médio: o que você acha de Sarney ou Collor soltos e Lula preso? Isso pode tisnar, criar uma nódoa na eleição, é muito grave. Metade da população tem intenção de votar nele.

    Metade?

    Claro. Se for candidato, ganha. Se a elite brasileira tivesse um pouquinho de espírito nacional, e menos espírito de Miami, concordaria que Lula é importante para o Brasil. [Tirá-lo] abre espaço para uma aventura que seria Bolsonaro presidente, um suicídio nacional e coletivo.

    3 comentários para “Elite brasileira tem de ter menos espírito de Miami, diz Flávio Dino

    1. Flamariom disse:

      Pra apoiar Lula, somente quem não tem vergonha na cara.
      “Diga-na quem apoias, e direi quem és.”

    2. Lobo disse:

      Mais uma vez o Camarada FD quer ser protagonista da cena nacional e tudo o que mais consegue é trazer constrangimentos ao Estado, com essa arrenga mal ajambrada de idéias requentadas e que já se provaram erradas além de qualquer remissão. Além de tudo defende um sujeito condenado e que em breve estará preso pelos muitos crimes que cometeu.
      Pobre Maranhão…

    3. jose carlos silva disse:

      Garrone, vamos combinar, MIAMI é uma maravilha. Sempre que posso dou uma passadinha para respirar ares civilizados, aconselho-o a fazer o mesmo quando puder.

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