Eleições: Weverton, a candidatura ao governo e o risco político com as voltas que o mundo dá
Não há como discordar da atitude do senador Weverton Rocha (PDT) em manter sua candidatura ao governo do estado. Posso até achar precipitada ou mesmo equivocada. Mas nunca,traição.
Partido político não é amigo de partido político. Weverton simplesmente tomou o caminho que achava que devia tomar. E não é surpresa, pois desde o início de sua pré-campanha já deixava claro que não aceitaria outro resultado das reuniões com os partidos da base de apoio do governador Flávio Dino, que não fosse pela sua candidatura.
Se sua decisão é a correta? Não sei. O tempo dirá. A política não perdoa passos em falso. Quantos nomes sumiram após alguns ou um só mandato? De igual forma, quantos tiveram ascensão meteórica?
Muitos.
Weverton, no entanto, precisa mudar o seu discurso. Antes que pague um preço – que a princípio não merece – logo na largada.
Na coletiva na sede do PDT, onde oficializou sua pré-candidatura, voltou a ressaltar que ele, Dino e Lula sempre estiveram do mesmo lado, ao contrário do vice-governador Carlos Brandão.
“Todos sabem que sempre estivemos do mesmo lado, sempre tivemos as mesmas causas. E ele [Brandão], claro, que não é desse mesmo lado. Não adianta agora ele mudar de partido e agora virar progressista”, disparou.
A um só tempo Weverton consegue valorizar seu adversário e desqualificar quem está a seu lado.
Ora, ao dizer que Brandão é do outro lado, vai ao encontro da política de aliança defendida por Lula, que é ampliar o leque de sua candidatura com a indicação de Geraldo Alckmin, como vice de sua chapa.
Filiado ao PSDB, o ex-governador de São Paulo, está de malas prontas para mudar para o PSB.
É exatamente por serem do “outro lado”, tanto Alckmin quanto Brandão agregam o centro à candidatura petista. Atraem eleitores que não são eleitores de esquerda e muito menos de direita.
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Lula defende aliança eleitoral que ‘ultrapasse as fronteiras do PT’
Na tarde desta segunda, Lula disse durante Seminário Resistência, Travessia e Esperança, que só ver sentido em sua candidatura se for como parte “de um movimento que ultrapasse as fronteiras do PT”.
Segundo o jornal Folha de São Paulo, a decisão do PT maranhense foi respaldada pelo diretório nacional do partido. É visto como um aceno ao PSB. “Uma movimentação que pode favorecer a construção de uma federação entre as siglas e também a formação de uma chapa com Lula (PT) e Geraldo Alckmin”.
Embora tenha dedicado os seus primeiros quatro anos de mandato de senador à sua pré-campanha ao governo do estado – ao contrário, por exemplo, da senadora Eliziane Gama que se destacou na CPI da Vacina – Weverton desempenhou um papel como deputado federal e líder do PDT, sem igual.
Em 2016, quando ainda não se falava em Vaza Jato, ele apresentou e garantiu a aprovação de emenda que institui o crime de responsabilidade de juízes e promotores, contrariando a mídia, Sérgio Moro, Daltan Dallagnol e toda uma gama de discípulos lavajatistas.
Foi alvo de uma campanha difamatória por parte da mídia que o acusava de ‘desfigurar as chamadas 10 medidas de combate à corrupção’, de retaliar o Ministério Público e o Judiciário. Os procuradores da Lava Jato ameaçaram renúncia coletiva. O relator do projeto na Câmara, ninguém mais, ninguém menos do que Onyx Lorenzoni bradou aos quatro ventos que a proposta de combate à corrupção idealizado pelo MPF e entregue ao Congresso Nacional com apoio de 2,4 milhões de pessoas, foi dizimado.
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Não apoiar a candidatura de seu vice por dois mandatos, Flávio Dino não só estaria negando o seu próprio governo – afinal, um vice que não serve para sucedê-lo, não serve para ser vice – como também estaria colocando fim na carreira política de seu companheiro de jornada.
Ao assumir o governo com a sua desincompatibilização para disputar o Senado, Brandão só tem a alternativa de disputar a reeleição como governador. Ou então não assumir os Leões e desmoralizado tentar uma vaga na Câmara Federal.
A história recente nos prova o que dá quando um governador vai contra o nome de seu vice, também por dois mandatos. Eleito em 2002, por força de sua articulação política, José Reinaldo Tavares rompeu dois anos depois e deu início ao que seria a primeira derrota histórica da família Sarney no estado.
Com mais quatro anos de mandato no Senado e com o limite de um mandato de governo a Carlos Brandão, já que ele estaria sendo reeleito, Weverton tinha ou ainda tem todas as condições de negociar o futuro.
Se preferir manter sua candidatura ao governo, como anunciado na coletiva de segunda-feira; é esperar que se comporte como candidato, como ele mesmo diz, do mesmo lado de Dino e Lula. E que não se deixe levar pelo calor da campanha e perca o trem da história…