FELIZ NATAL PRA QUEM?
Fernando Abreu
Elitismo tem limite, mesmo quando travestido de legítima crítica a ações governamentais. O Natal organizado conjuntamente pelo governo do Estado e pela prefeitura de São Luís é uma festa impecável e popular que afirma valores perenes ligados a essa data, indispensáveis nos dias de barbárie crescente que vivemos.
O que nos incomoda tanto? Ver centenas de famílias vindas de bairros como Anjo da Guarda, Vila Embratel, São Francisco, Liberdade, Camboa e tantos outros, descendo dos ônibus e se dirigindo à área da Praia Grande e à Praça Pedro II, sendo recebidos com dignidade para uma festa preparada especialmente para eles? Qual é o incômodo? Queremos um Natal só para nós, à nossa imagem e semelhança, do qual temos o controle absoluto?
Sem ofensa, não posso deixar de me lembrar do incômodo até bem pouco tempo causado pela presença de pessoas mais humildes em espaços que julgávamos privativos de nosso estrato social privilegiado: supermercados, aeroportos, shopping centers, polos turísticos, restaurantes, etc?
Ah, mas isso são os fascistas, eles é que fazem isso. Nós não, nós somos inclusivos, tolerantes e acolhedores, desde que nos nossos termos. Segundo nossos critérios estéticos, quem sabe. Quem sabe nosso desejo inconfesso seja simplesmente proibir essa manifestação espúria de colonialismo cultural e mercadológico. Mas as crianças adoram. Ora, são apenas crianças alienadas!!!
Ah, lembrei de mais um detalhe: recente pesquisa sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mostra que somos o segundo país mais desigual do mundo. Será que quando rejeitamos com tanta virulência uma festa, afinal de contas feita para o conjunto da população (incluindo, por óbvio os mais fragilizados socialmente) não estamos reforçando, no plano simbólico, a tragédia que se dá concretamente todos os dias nas vidas de milhões de brasileiros e maranhenses?
Como se diz, fica a dica.
Feliz Natal pra todo mundo!!!!!