Jair Bolsonaro obteve 13 milhões de votos no Norte e Nordeste, mas, pela primeira vez na história da República, o presidente eleito tomará posse sem nenhum representante dessas regiões no primeiro escalão.
Dos 22 ministros anunciados, 8 são do Sul, além do vice, Hamilton Mourão. Outros 11 nasceram no Sudeste, 2 no Centro-Oeste e 1 é colombiano naturalizado brasileiro.
Damares Alves (Mulheres, Família e Direitos Humanos) é quem mais se aproxima de ter uma identificação com o Nordeste, onde passou parte da infância e da juventude. Também fez trabalhos sociais como pastora na região, mas é do Paraná.
A Folha levantou a composição ministerial dos governos republicanos brasileiros na Biblioteca da Presidência da República, considerando o local de nascimento dos presidentes, seus vices e os ministros que assumiram na posse.
Presidente do PSL, o deputado federal pernambucano Luciano Bivar afirmou que não é a naturalidade da pessoa que garante a representatividade.
“Se fosse o caso de colocar 15 ministros sulistas, ele colocaria. Se fosse o caso de colocar 15 nordestinos, ele colocaria. Não há nenhuma discriminação com relação a região, etnia, gênero, nada disso. É uma questão eminentemente técnica”, afirmou.
Desde 1889, quando a República foi proclamada, todos os governos tiveram representantes de alto escalão nascidos no Norte e Nordeste.
De 1985 para cá, nordestinos e nortistas foram protagonistas de todos os governos a começar pelo primeiro deles, o de José Sarney (1985-1990), natural de Pinheiro (MA). Ao assumir a Presidência, nomeou oito nordestinos em seu ministério.
Depois, Fernando Collor (1990-1992), que, embora tenha feito sua história em Alagoas, nasceu no Rio, teve uma alagoana e um amazonense no primeiro escalão no dia inaugural do mandato.
Itamar Franco (1992-1995), estabelecido em Minas, nascido a bordo de um navio entre Rio e Salvador e registrado na capital baiana, colocou quatro nordestinos e um nortista na Esplanada –sem contar Ciro Gomes, que, a despeito da carreira no Ceará, nasceu em Pindamonhangaba (SP).
O carioca Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) tinha pernambucanos na Vice-Presidência e em mais dois ministérios, além de um baiano e um acriano na Esplanada.
Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011), nascido em Caetés (PE) e criado em São Paulo, tomou posse acompanhado de três ministros nordestinos e uma acriana. Sem falar em Ciro, de novo, Humberto Costa, que nasceu em Campinas, mas faz carreira em Pernambuco, e Jaques Wagner, carioca que vive na Bahia.
A mineira Dilma Rousseff (2011-2016) assumiu a Presidência com sete nordestinos na Esplanada, fora Orlando Silva, baiano de nascença, paulista de adoção.
O paulista Michel Temer, por sua vez, oficializou-se presidente com sete ministros nordestinos, mais Henrique Eduardo Alves, que embora potiguar por adoção, nasceu no Rio.
Na eleição presidencial, o Nordeste foi a única região do país em que Bolsonaro perdeu a eleição para Fernando Haddad (PT) no segundo turno, com 30% dos votos válidos contra 70%.
Também foi a única região para onde o então candidato não pôde viajar na campanha, já que sua agenda foi cancelada depois de sofrer um atentado a faca em setembro.
Ciente das dificuldades que teria nesse reduto petista, Bolsonaro passou a fazer sucessivos acenos aos eleitores nordestinos, um quarto do total nacional.
Lamentou a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, urgiu a conclusão da transposição do rio São Francisco, elogiou “a essência do povo nordestino, uma das principais belas formas da diversidade cultural do Brasil” e prometeu 13º salário para beneficiários do Bolsa Família.
Disse também que eliminaria o que chamou de coitadismo com que populações como a nordestina são tratadas por meio de políticas afirmativas.
Em seu programa de governo, pouco foi elaborado sobre a região. Mencionou-se que “com sol, vento e mão de obra, o Nordeste pode se tornar a base de uma nova matriz energética limpa, renovável e democrática”.
Não há menção específica ao Norte, reservas indígenas, Amazônia ou extrativismo, temas que já na transição causam apreensão por declarações ambíguas de Bolsonaro. No Norte, a disputa presidencial foi acirrada, com vantagem para Bolsonaro (52% a 48%).
Da Folha de São Paulo