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    Parlamentares gastam R$ 127 mil de verba pública para ir a eventos bolsonaristas na Europa

    Eventos são do grupo Yes Brazil USA, que cuidou da agenda do ex-presidente em Orlando após eleição

    Fonte: Agência Pública

    Por Texto: Laura Scofield | Edição: Natalia Viana

    Em setembro e outubro deste ano, o grupo dos seminários e palestras Veritas Liberat, realizados com o apoio do grupo Yes Brazil USA em cidades europeias, estão sendo parcialmente pagos pelo contribuinte brasileiro.

    Apuração da Agência Pública revela que deputados e senadores gastaram mais de R$ 127 mil reais de dinheiro público para ir a eventos bolsonaristas, onde a disseminação de desinformação é comum – em uma delas, o general Pazuello questionou a apuração dos votos nas eleições presidenciais. Segundo organizadores, os eventos servem para aproximar parlamentares brasileiros de congressistas conservadores de outros países. 

    O último seminário Veritas Liberat nos países europeus ocorrerá amanhã (14), em Madrid, capital espanhola. O evento terá entre seus convidados o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), a deputada federal Bia Kicis (PL-SP) e a deputada estadual de Santa Catarina, Ana Campagnolo (PL-SC). Este ano ainda ocorreram outros quatro seminários promovidos pelo Yes Brazil USA e pelo Institutum Veritas Liberat. Em setembro, os eventos foram realizados nas cidades italianas de Novara e Roma, e em Zurique, na Suíça. No último dia 10 de outubro houve ainda um evento em Lisboa.

    Além deles, o Coronel Alberto Feitosa (PL-PE), da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe), também participou dos eventos.

    Flávio Bolsonaro gastou mais de R$ 11 mil em passagens para a Espanha e R$ 9 mil em diárias no país. Ele viajou em 11 de outubro e volta ao Brasil no dia 16. O senador foi autorizado a viajar com dinheiro público pelo presidente da Casa, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como determina o regimento do Senado para viagens em missão oficial. 

    O deputado federal e ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, General Pazuello (PL-RJ) gastou mais de R$ 27 mil com passagens e diárias, pagas pela Câmara dos Deputados. Pazuello compareceu aos seminários nas cidades de Roma e Novara, na Itália, e Zurique, na Suíça, entre os dias 20 e 26 de setembro. 

    Em sua fala em Zurique, em 24 de setembro, Pazuello questionou a apuração dos votos feita pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e afirmou que “é importantíssimo o voto impresso”, rejeitado pela Câmara dos Deputados em 2021. “A Constituição é clara: o voto é secreto, mas a apuração é pública. Será que a apuração está sendo pública? Será que estamos cumprindo a Constituição no que prescreve a apuração pública dos votos? A contabilização e apuração pública?”, perguntou. 

    De acordo com o TSE, o resultado de cada urna é impresso e colado nas seções eleitorais. “Ele pode ser facilmente confrontado, por qualquer eleitor, com os dados divulgados pelo TSE na internet, após a conclusão da totalização”, explica o tribunal. 

    Pazzuello participa das edições do seminário Veritas Liberat.

    Pazuello dividiu a mesa com os deputados estaduais Ana Campagnolo e Coronel Alberto Feitosa, que também pagaram suas idas com dinheiro público. Feitosa gastou R$ 14,8 mil em diárias entre 20 e 25 de setembro, quando compareceu aos congressos na Itália e Suíça. 

    Na cidade italiana de Novara, Feitosa reproduziu a fake news que afirmava que a sigla “CPX”, usada por Lula em um boné, era ligada a uma facção criminosa. Na verdade, o termo significa “complexo” e se refere a grupos de favelas, como o Complexo do Alemão – onde o presidente estava em campanha quando usou o boné. 

    No ano passado, a Pública mostrou que a campanha de Bolsonaro tentou ligar o atual presidente ao crime organizado usando desinformação como estratégia política. 

    Já Campagnolo viajou para a Suíça no dia 20 de setembro acompanhada de seu assessor, Douglas Pereira Lopes. Os dois gastaram mais de R$ 36 mil com diárias e passagens. No relatório de viagem, descreveram o seminário como um “evento oficial” onde haveria “reunião/visita com lideranças/entidades”. Voltaram ao Brasil em 26 de setembro, e no dia 5 do mês seguinte, a deputada foi novamente à Europa para comparecer aos seminários de Lisboa e Madrid. A segunda ida de Campagnolo custou ao todo mais de R$ 28 mil aos cofres do estado de Santa Catarina. No total, Campagnolo gastou R$ 65 mil para comparecer aos eventos. 

    A deputada, que se diz “antifeminista”, falou sobre feminismo e criticou o conceito de violência política de gênero. “Alguém lá na faculdade criou o termo de violência política de gênero, que basicamente consiste em discordar de uma mulher. Se discordou de uma mulher e ela é política, é violência política de gênero”, disse a deputada.

    De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Brasil registrou 112 denúncias de violência contra a mulher entre agosto de 2021, quando este tipo de violência se tornou crime, e dezembro de 2022.

    O senador Jorge Seif também iria ao evento e havia comprado passagens e seguro-viagem com dinheiro do Senado no total de R$ 40 mil. Porém, ele cancelou a ida devido às enchentes em Santa Catarina, segundo sua assessoria de imprensa. Questionada se o dinheiro será devolvido, a assessoria afirmou: “acredito que sim”. A reportagem pediu que ela confirmasse a informação, mas não obteve resposta.

    Além dos parlamentares já citados, a deputada Bia Kicis (PL-DF), e o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) também constam como palestrantes dos congressos nas cidades europeias neste mês de outubro, mas, até o fechamento deste texto, não declararam gastos via cota parlamentar. 

    A reportagem entrou em contato com todos os parlamentares citados mas não obteve retornos. 

    Seminários buscam aproximar parlamentares brasileiros e europeus 

    Os seminários conservadores na Europa foram promovidos pelo grupo Yes Brazil USA, comandando pelo casal Larissa e Mário Martins, e pelo “Institutum Veritas Liberat”. De acordo com a página do Yes Brazil USA no Instagram, eles são um “grupo de direita que reúne cristãos comprometidos com um Brasil livre da ideologia comunista”. 

    Como organizadores, o casal fez uma fala por vídeo na abertura do evento em Zurique. Mário afirmou que “as liberdades estão sendo tolhidas no Brasil” e pediu engajamento: “chegou a hora de nós que moramos no exterior levantarmos a nossa voz e denunciarmos todas as atrocidades que estão acontecendo no nosso país”. 

    Já Larissa lembrou que, nas últimas eleições presidenciais, o Yes Brazil USA e outros grupos aliados organizaram a inscrição de fiscais nas seções eleitorais do exterior. “Nós já começamos fazendo já bastante barulho, porque pela primeira vez nas eleições do Brasil houve fiscais e delegados em todo o exterior. Vocês estão de parabéns”, afirmou. 

    No ano passado, a Pública revelou que a disseminação de mentiras sobre o sistema eleitoral estava sendo usada para arregimentar fiscais de urna, e que os fiscais no exterior espalharam desinformação e defenderam atos golpistas. 

    Larissa Martins e Mário Martins, casal fundador do Yes Brasil USA em evento com Jair Bolsonaro.

    O Yes Brazil USA existe formalmente desde agosto de 2021, quando foi registrado como uma organização sem fins lucrativos no estado da Flórida, porém, já promove eventos desde ao menos 2019. Mário é o diretor-executivo da instituição e Larissa é a diretora financeira. 

    A conta do grupo no Instagram tem 33,5 mil seguidores e publica conteúdo desinformativo com frequência, inclusive sobre a segurança do sistema eleitoral brasileiro. Ao tentar seguir o perfil, o Instagram avisa que “esta conta publicou repetidamente informações falsas que foram analisadas por verificadores de fatos independentes ou que eram contra nossas Diretrizes de Comunidade”. O perfil faz várias campanhas para arrecadar dinheiro, tanto para Bolsonaro quanto para as famílias dos golpistas presos pelo 8 de janeiro. 

    De acordo com seu site, o Institutum Veritas Liberat tem como objetivo “unir a direita brasileira e portuguesa e lutar pelos valores conservadores / judaico-cristãos e combater o socialismo nas Américas e Europa, inspirados pelo professor Olavo de Carvalho e Companhia de Jesus”. 

    O portal também afirma que eles organizaram manifestações em 7 de setembro de 2021 e 2022 e promoveram o Primeiro Congresso Conservador da Revista Direita BR Europa, em janeiro de 2022. 

    Banner de divulgação do seminário Veritas Liberat em Madrid.

    O Seminário Veritas Liberat em Madrid conta ainda com outro organizador, o grupo Patriotas na Espanha, que também participou da mobilização para garantir fiscais do PL no exterior no ano passado. Em um vídeo publicado nas redes, uma das organizadoras, Eliza Andrade, diz que o evento existe para “unificar a direita conservadora e liberal mundialmente e tentar aproximar os nossos parlamentares brasileiros aos parlamentares aqui”. 

    Yes Brazil USA promoveu eventos com Bolsonaro em Orlando

    Os criadores do Yes Brazil USA são próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No início deste ano, quando ele estava em Orlando, após ter se negado a passar a faixa presidencial para o atual mandatário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o grupo promoveu vários eventos com o ex-presidente e cuidou da agenda dele, segundo apurou a Agência Pública. Bolsonaro também fez participações nos seminários Veritas Liberat, só que virtualmente. No de Zurique, por exemplo, falou ao vivo por uma de chamada de vídeo.

    O pastor Mark D. Boykin, da Church of All Nations (Igreja de Todas Nações, em português), explicou à Pública em julho deste ano que recebeu de um amigo a proposta de sediar um evento com o ex-presidente por meio do Yes Brazil USA. “Ei, você teria interesse em receber o presidente Bolsonaro na igreja?”, teria perguntado o amigo a Boykin. “E eu disse, ‘claro, quero dizer, o que está acontecendo?’ Ele disse: ‘temos uma conexão com um grupo aqui’”. 

    Jair Bolsonaro em evento na Igreja de Todas as Nações, em Boca Raton.

    O evento ocorreu no dia 11 de fevereiro na sede da igreja, que fica na cidade de Boca Raton. Os cartazes de divulgação trazem o logo do Yes Brazil USA e os ingressos esgotaram. Em sua fala, Jair Bolsonaro chamou os golpistas que destruíram os prédios públicos em 8 de janeiro de “presos políticos” que estariam “em campos de concentração no Brasil”.

    “A grande maioria não tem culpa de nada”, afirmou o ex-presidente. 

    À reportagem, o pastor também reproduziu as mentiras contadas por Bolsonaro e seus apoiadores sobre as últimas eleições: “Não sou brasileiro, mas eles sentiam que a eleição foi fraudada. Eles sentiam que a Suprema Corte basicamente havia assumido os poderes executivos”, afirmou.

    Em agosto deste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornou Bolsonaro inelegível por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação quando ele promoveu uma reunião com embaixadores para afirmar que o sistema eletrônico poderia ser fraudado.

    Pastor Mark D. Boykin na Igreja de Todas as Nações.

    O presidente da Florida Christian University (Universidade Cristã da Flórida), Anthony Portigliatti, também contou à reportagem que Larissa Martins foi a responsável pela organização de eventos com Bolsonaro na universidade e em outro negócio da família, o Excellence Senior Living, uma casa de repouso de luxo para idosos em Orlando. 

    “Ela que foi a grande agitadora. Ela que agendou conosco. Ela que pediu… Ela conheceu o Bruno [Portigliatti, filho de Anthony] em Miami, e aí ela pediu para o Bruno, ‘por que você não agenda?’ E aí que a gente promoveu”, explicou em entrevista em julho.

    De acordo com ele, o evento foi feito para possibilitar a empresários brasileiros na Flórida a chance de conversar com o ex-presidente sobre o futuro do Brasil. De acordo com Anthony, Bolsonaro falou sobre o agronegócio, a Amazônia e questionou: “Quais são os verdadeiros interesses de pessoas de fora [com a floresta]?”. 

    Anthony Portigliatti, presidente da Universidade Cristã da Flórida.

    Outro evento promovido pelo Yes Brazil USA e pelo grupo Clama Orlando ocorreu em um restaurante na cidade. Procurados, os organizadores não quiseram dar detalhes sobre o dia. 

    A reportagem tem tentado contato com os responsáveis pela Yes Brazil USA desde ao menos junho deste ano, mas sem retorno. 

    Em julho, a Pública visitou dois endereços ligados ao casal Larissa e Mário na Flórida em busca de uma entrevista, mas os dois estavam vazios. Funcionários da portaria do prédio onde a empresa “YES BRAZIL USA, INC” está registrada disseram não conhecer o casal. 

    O Institutum Veritas Liberat também não respondeu às tentativas de contato. 

    Acreditando na idiotice perpétua de eleitores bolsonaristas Deltan se desmancha no ar

    Com o fim do mandato presidencial de Bolsonaro, seguido da fuga, das joias, bistecas e pescoço de galinha, o que sobrou do bolsonarismo foi uma dezena de boçais crentes na proteção absoluta da imunidade parlamentar e na idiotice perpétua dos eleitores do ex-presidente. 

    A cena melancólica de Daltan Dallagnoll sozinho gravando uma mensagem em um plenário vazio antes de devolver o mandato conquistado na ilegalidade, e isso depois da indiferença da população que não reagiu como ele acreditava contra a decisão do TSE que cassou o seu mandato, é sinal da retomada civilizatória e o fim de uma fantasia de poder. Não esperavam durar mil anos, mas também não que fosse tão curta. 

    Os eleitores bolsonaristas podem até bater continência a pneu, implorar por uma intervenção, seja ela militar ou alienígena, mas não são doidos o suficiente para repetir a dose. Sabem que agora todos podem ser presos. 

    E sem o eco das ruas, a imunidade se desmancha no ar. 

    Fama nacional: Weverton é perfeitamente bolsonarista, diz jornalista do grupo Folha

    Senador tenta minimizar bolsonarismo latente à micuinha provinciana

    Montagem ilustrativa

    A fama de bolsonarista do senador Weverton Rocha (PDT-MA), nova no Maranhão, corre há tempos nos corredores e nas rodinhas do poder em Brasília. Tanto que esta semana, no podcast da revista Piauí – uma publicação que pertence ao Grupo Folha -, a jornalista Thais Bilenky classificou Weverton como “perfeitamente bolsonarista”.

    Bilenky, que apresenta o podcast acompanhada dos jornalistas Fernando de Barros e Silva e José Roberto de Toledo, descreve Weverton como “um senador que trocou o Lula pelo Bolsonaro” para disputar a eleição contra Carlos Brandão (PSB), candidato indicado por Flávio Dino (PSB).

    Ainda segundo a jornalista, com a ascensão dos Bolsonaro ao poder, Weverton entrou no círculo de Flávio Bolsonaro e do bolsonarismo em Brasília. “No Maranhão ele não é declaradamente Bolsonaro, mas em Brasília ele é perfeitamente bolsonarista”, disse.

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    No programa, os jornalistas comentam o tráfico de influência e crime fiscal no Ministério da Educação (MEC) e favorecimento ilícito na Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) – estatal entregue por Bolsonaro ao Centrão, que tem em Weverton um dos membros de maior ascensão do grupo.

    Bilenky conta que Weverton Rocha é próximo do pastor Gilmar Moura, que era o chefe do esquema de corrupção no MEC, que derrubou o ministro, e lembra que o pedetista foi um dos três senadores que retirou assinatura da CPI para impedir as investigações dos pastores lobistas.

    A jornalista cita ainda o caso Engefort – empresa campeã de licitações na Codevast, que tem sede em Imperatriz, cujo prefeito é aliado de primeira hora de Weverton – e faz uma revelação curiosa: Imperatriz recebeu quase 14 vezes mais emendas que São Luís. Somente em 2021 foram R$ 14 milhões contra R$ 1,5 milhão.

    Dono de uma poderosa rede de comunicação no Maranhão, composta por rádios, TVs e blogs, Weverton está armado para atacar quem o taxa como bolsonarista. Mas em Brasília, faz arminha.

    Ouça o comentário da jornalista
    Weverton se deixa fotografar com ministro Queiroga e foto de Bolsonaro ao fundo

    Secretário de fomento à cultura promete R$ 1 bilhão da Lei Rouanet para conteúdo pró-arma

    Lei Rouanet vai ser usada para conteúdo cultural sobre armas de fogo/ Foto: Reprodução

    Por Alice Maciel e Bruno Fonseca (Agência Pública)

    Ao lado do ex-secretário Mário Frias, o então número dois da pasta, André Porciuncula, pediu que armamentistas usem recursos da Lei Rouanet para conteúdos audiovisuais pró-armas

    “Pela primeira vez, vamos colocar dinheiro da Rouanet em eventos de arma de fogo”, afirmou Porciuncula

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    “Se a gente acredita em armas, a gente precisa criar os heróis”, disse Mario Frias sobre conteúdos pró-armas

    “Pela primeira vez vamos colocar dinheiro da Rouanet em eventos de arma de fogo, vai ser super bacana isso”. A fala é de André Porciuncula, então secretário nacional de Incentivo e Fomento à Cultura, e o responsável por analisar e aprovar propostas que desejam se enquadrar na Lei de Incentivo à Cultura, conhecida como Lei Rouanet. A promessa foi feita durante a Convenção Nacional Pró-armas, realizada no dia 28 de março deste ano, quando ele ainda ocupava o segundo cargo mais importante da Cultura no país.

    Segundo Porciuncula, o governo tem R$ 1,2 bilhão para dois “megaeventos”, dinheiro que pode ser usado, segundo ele, por criadores de conteúdos pró-armas. “Estamos lançando agora, de linha audiovisual, que vocês podem usar para fazer documentários, filmes, webséries, podcasts, para quê? Para trazer a pauta do armamento dentro de um discurso de imaginário. Trazer filmes sobre o armamento, da importância do armamento para a civilização, a importância do armamento para garantir a liberdade humana”, afirmou.

    A referência, no caso, seriam as comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil, que será celebrado em setembro deste ano, um mês antes das eleições. “Estamos lançando na secretaria especial de cultura dois megaeventos em que a princesa do evento é a arma de fogo, o presidente da República vai estar […] A arma de fogo foi fundamental pra que garantíssemos a nossa independência. Então trazer um evento em que a arma de fogo seja a nossa miss na passarela, que a gente mostre para população um outro olhar sobre a arma de fogo”, defendeu.

    Oficialmente, a Secretaria de Cultura anunciou um edital de R$ 30 milhões para produções audiovisuais sobre o bicentenário. Segundo o texto, podem ser documentários, filmes de ficção ou animações de curta e longa metragem que tenham o tema da independência. A Agência Pública questionou a pasta sobre o financiamento de R$ 1,2 bilhão prometido pelo ex-secretário, que ainda não retornou.

    “Chamo aos senhores a usarem a Lei Rouanet, que é uma lei de incentivo tributário também, para que vocês que possuem contatos com empresários ou então que sejam empresários, financiem eventos pró-armas com a Lei de Incentivo, eventos culturais sobre a arma de fogo com a Lei de Incentivo. Sejam agentes modificadores”, convocou Porciuncula.

    Língua franca do boçalnarismo. Por Renato Ortiz

    Por RENATO ORTIZ* (publicado no site A TERRA É REDONDA)

    Observações sobre autoritarismo e linguagem

    Victor Klemperer, em seu diário agônico sobre a vida cotidiana na Alemanha nazista, descreve com inteligência e argúcia a emergência de um tipo de linguagem que ele denomina de LTR (Linguagem do Terceiro Reich). Ela invade os jornais, os comunicados oficiais, as revistas, penetra os diálogos das pessoas nas casas e na rua. O autoritarismo transcende o seu núcleo de origem (o Estado e o partido) impregnando a sociedade em seus lugares recônditos.

    Creio que é possível dizer que o novo totalitarismo tupiniquim faz algo análogo. Nos discursos do presidente da República e seus seguidores, uma forma de linguagem emerge — agressiva, repetitiva, ecoando, sobretudo nas redes sociais, o seu barulho ensurdecedor. Vou denominá-la de LFB (Língua Franca do Boçalnarismo).

    Não me refiro apenas ao linguajar chulo empregado pelos políticos e seus acólitos, no qual a grosseria tornou-se recurso retórico recorrente. Chulo é adjetivo, interessa-me o substantivo, isto é, uma forma de se expressar que, aos poucos, se constitui em maneira de apreensão do mundo, enfim, uma linguagem.

    O que a delimita, qual a sua identidade? Uma linguagem não se refere apenas a algo fortuito, à simples expressão de alguma coisa. Ela revela uma “estrutura” de pensamento. O objetivo da LFB é tornar banal sua própria aberração. Todo sistema autoritário almeja a disciplinarização da linguagem; ela exprime, no domínio público, as virtudes de sua atrocidade.

    Uma de suas características é o insulto, geralmente acompanhado de palavrões, provocações e ofensas. “O que esses caras fizeram com o vírus, esse bosta desse governador de São Paulo, esse estrume do Rio de Janeiro” (fala do presidente da República); “Por mim botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”; “Uma pena, prefiro cuidar dos estábulos, ficaria mais perto da égua sarnenta e desdentada de sua mãe” (ministro da Educação respondendo a uma crítica no Twitter); “Mídia golpista, comprada, cambada de safados… seus lixos” (manifestante em frente ao Palácio do Planalto).

    A agressividade discursiva investe no apagamento do outro, na correção do comportamento de quem é percebido como um perigo

    Bosta, estrume, vagabundos, égua desdentada, cambada de safados. Os termos são claros indicam desacato e afronta. O insulto é uma forma de diminuição do outro, maneira de rebaixá-lo à uma posição passível de humilhação e desprezo. O outro deixa de existir na sua integridade sendo apreendido na sua “irrelevância”, alguém que na sua palidez e letargia ousa se colocar no caminho de quem o aflige. Este é objetivo da injúria conspurcar a dignidade daquele ao qual ela se dirige.

    Outra dimensão é a bravata, isto é, o alarde de uma postura que se imagina capaz de suplantar os entraves que a tolhem. “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher fique à vontade”; “Competência? É problema do deputado. Se quiser botar uma prostituta no meu gabinete, eu boto. Se quiser botar minha mãe, eu boto. É problema meu!”; “Essa é uma realidade, o vírus taí! Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, porra, não como um moleque… É a vida. Todos vamos morrer um dia” (presidente da República). A bravata tem algo de narcisista, de presunçosa, deriva para o exibicionismo superlativo; ela é cabotina, exprime a intenção de insolência em relação ao que se encontra estabelecido. As regras e os princípios morais se dobrariam assim a seu propósito coercitivo. Mas ela é um artifício efêmero cuja força se esgota na imediatez da imagem exibida, sua duração é curta, resume-se ao átimo do que está sendo mostrado.

    A LFB caracteriza-se ainda por sua aspereza, as frases curtas reforçam o intuito agressivo e autoritário. “Jamais estupraria você porque você não merece”; “O erro da ditadura foi torturar e não matar”; “Se fuzilassem 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, o país estaria melhor” (presidente da República). As sentenças brilham como neon publicitário, são condensadas, reduzem o pensamento à sua essência: a agressão. A brutalidade dos fatos torna-se explícita, matar, torturar, estuprar. Entretanto, a barbárie expressa no enunciado não tem como objetivo chocar, ela dá um passo adiante, justifica a eliminação do outro.

    É necessário reduzir o adversário a um nada, sua insignificância deve ser anulada, desfeita, a agressividade verbal desdobrando-se em agressividade física. Enquanto o insulto é distância, deslegitimação do outro, e a bravata, a afirmação exibicionista de algo que não se pode alcançar, a agressividade discursiva investe no seu apagamento, na correção do comportamento de quem é percebido como um perigo.

    Por fim, a denegação da realidade, a Língua Franca do Boçalnarismo é rica em exemplos dessa natureza: “Não existe homofobia no Brasil. A maioria dos que morrem, 90% dos homossexuais que morrem, morre em lugares de consumo de drogas, em local de prostituição, ou executado pelo próprio parceiro” (presidente da República); “Em torno de 40 povos [indígenas] no Brasil ainda matam suas crianças quando filhos de mãe solteira, quando nascem gêmeos, quando nascem com qualquer deficiência física e mental” (ministra dos Direitos Humanos); “Não acredito em aquecimento global. Vejam que fui a Roma em maio e estava tendo uma onda de frio enorme. Isso mostra como as teorias do aquecimento global estão erradas” (ministro das Relações Exteriores); “Eles precisavam destruir as famílias americanas porque elas eram a sustentação do capitalismo” (presidente da Fundação Nacional de Artes em relação aos Beatles).

    Em todos esses exemplos, a realidade se desfaz diante da presença de um discurso contundente, aguerrido e falso. Tudo se passa como se qualquer estupidez pudesse ser dita à revelia dos fatos, sua veracidade é plausível desde que pronunciada com raiva, convicção e alarido. A realidade dobra-se assim ao escarcéu do embuste.

    *Renato Ortiz é professor titular do Departamento de Sociologia da Unicamp. Autor, entre outros livros, de Cultura brasileira e identidade nacional (Brasiliense).

    O silêncio cúmplice, as fakes news e a imoralidade pestilenta de Chaguinhas

    O vereador Francisco Chaguinhas durante discurso negacionista / Foto: reprodução do Youtube

    Será que o vereador Francisco das Chagas Lima e Silva, o Chaguinhas, pode se aproveitar da imunidade parlamentar para promover fake news e atentar contra a saúde pública, incitando o não uso de máscaras, igual fez durante sessão da Câmara Municipal de São Luís, no último dia 30 de junho?

    A pergunta é pertinente a propósito da não repercussão conforme exige a gravidade de um caso que coloca em risco a vida da população. A máscara é considerada fundamental pela Organização Mundial de Saúde no controle da transmissão comunitária do vírus da Covid-19, e deve ser usada, inclusive, por quem já tomou a segunda dose da vacina.

    Imbuído de um patriotismo canhestro, Chaguinhas tomou pra si a missão de livrar a cara do presidente Bolsonaro, desqualificando a CPI da Covid, enxovalhando senadores, governadores, cientistas e até mesmo o ministro do STF, Roberto Barroso; e difundindo fake news sobre a origem do vírus e dos interesses econômicos que estariam por trás da pandemia que “assola o mundo inteiro”.

    Os absurdos se atropelam, sem que nenhum vereador no plenário ou da mesa diretora da Câmara dessem um pio sequer. O descaso e a indiferença ao discurso de um vereador afirmando da tribuna, que Anthony Fauce, o criador do vírus, procurou Bill Gates e juntos foram à China para “lá produzir em alta escala esse vírus que assola o mundo inteiro”, é uma das cenas mais degradantes da história do legislativo ludovicense.

    A situação se deteriora quando Chaguinhas retorna à tribuna no segundo expediente e promove um teatrinho macabro. Tira a máscara e diz que ela não vale nada, porque o próprio criador do vírus tem dito a amigos que a máscara “era como se fosse um alambrado para não deixar o mosquito passar”.

    Assista e veja com seus próprios olhos – I

    Como se não bastasse, Chaguinhas vaticina – com a altivez de um leitor de cientistas na internet – que a ciência exercida no Brasil é uma ciência falsa e que os cientistas contrários ao tratamento precoce precisam estudar.

    “Esta ciência que acompanhou o vírus nesse Brasil é uma ciência falsa. Os cientistas que deram as suas palavras, são cientistas falsos, porque eles não estudaram, eles não se aprofundaram e daí começaram com falácias e mais falácias”.

    Segundo o douto vereador, esses “falsos cientistas” sabiam que com o tratamento precoce não haveria tanta morte por Covid no Brasil e a pandemia não daria tanto dinheiro.

    Antes de baixar as cortinas, o desprezo de Francisco das Chagas Lima e Silva com as famílias dos 2.438 ludovicenses abatidos pela Covid, recebe o aval do vereador Gutemberg Araújo. Cirurgião Geral do Aparelho Digestivo e da Obesidade, Dr. Gutemberg parabenizou a sensatez do discurso.

    A situação se deteriora quando Chaguinhas retorna à tribuna no segundo expediente e promove um teatrinho macabro. Tira a máscara e diz que ela não vale nada, porque o próprio criador do vírus tem dito a amigos que a máscara “era como se fosse um alambrado para não deixar o mosquito passar”.

    Assista e veja com seus próprios olhos – II
    O uso de fake news para estimular a população a não usar máscara (início) e os parabéns do Dr. Gutemberg (1:33:00 a 1:33:28)

    O que o vereador Chaguinhas fez não tem guarita em nenhuma sociedade que se pretenda civilizada. Em ‘Como funciona o fascismo’, o professor da Universidade de Yale, Jason Stanley, nos lembra que atacando a ciência e minando as instituições democráticas, “a política fascista acaba por criar um estado de irrealidade, em que as teorias da conspiração e as notícias falsas tomam o lugar do debate fundamentado”.

    Nada justifica o silêncio sepulcral dos partidos e classe política e especialmente, das instituições públicas e das entidades da sociedade civil organizada.

    Se o problema for o art. 60 da Lei Orgânica do Município, que garante ao vereador a inviolabilidade civil e penal, “por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos, no exercício do mandato e no âmbito da circunscrição de sua atuação”, nada impede notas de repúdio e até mesmo de utilidade pública!

    Se não pelas barras da Lei, é preciso que por força da opinião pública, se coloque limite a esse tipo de gente. Não o limite da censura ou algo que vá contra o direito à liberdade de expressão. O limite do repúdio público, na mesma proporção do ataque. Quanto mais baixo é, mais baixo, o troco!

    E que não se alegue a tese da insignificância. As tribunas do Parlamento servem apenas de cenário das produções de vídeos próprios para circular nas redes sociais e suas bolhas. A história nos ensina o que dá não cortar o mal pela raiz.

    A criação do vírus em laboratório, a inutilidade da máscara e outras referências ao infectologista Anthony Fauce no pronunciamento feérico de Chaguinhas, são deturpações das trocas de e-mails entre Fauce e outros cientistas ainda no início da pandemia nos primeiros meses de 2020. As fake news foram desmontadas no Brasil pela Agência Lupa e pelo Projeto Comprova. Nos EUA, por Poynter, Factcheck.org, USA Today e AFP.

    Aliança com bolsonarismo afunda o PSDB no Maranhão

    Em todo o país, a grande maioria dos candidatos a prefeito e vereador apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) acabou derrotada nas eleições municipais 2020. No Maranhão a aliança com o bolsonarismo rendeu péssimos resultados para o PSDB.

    Por força do senador Roberto Rocha, o tucanato maranhense vem sendo estimulado a seguir o direitismo extremo ao modo bolsonarista, mas a estratégia não deu certo.

    Só para se ter uma ideia, ate o último domingo, 15, o PSDB contava com 29 prefeitos em cidades maranhenses, mas agora só conseguiu eleger quatro novos prefeitos, o que corresponde a uma redução de 86%.

    Queda também no número de vereadores. Antes das eleições municipais 2020, o PSDB no Maranhão tinha 164 vereadores espalhados pelo Maranhão, agora só 96 se elegeram ou reelegeram, uma queda de 59%.

    Na capital o fracasso foi ainda maior. A sigla não conseguiu emplacar nenhum nome para Câmara Municipal de São Luís.

    Braide e o bolsonarismo

    Na capital agora vai restar a Roberto Rocha torcer pela vitória de Eduardo Braide (Pode), um dos únicos candidatos bolsonaristas a chegar ao segundo turno.

    Pesa contra o bolsonarista Braide o expediente do Ministério Público Federal, que em documento sigiloso classifica Eduardo Braide como “investigado” em caso de desvio de recursos públicos quando ele era deputado estadual.

    Braide até conseguiu, via manobra judicial, censurar temporariamente o jornal Folha de S. Paulo, que divulgou o documento comprometedor. Mas com a publicação de novos documentos apresentados pelo MPF, a juíza eleitoral que vetou publicações sobre o caso voltou atrás e derrubou a censura contra a Folha.

    Aliás, revela a fake news da fake news.

    Braide e sua turma montaram uma fake news para acusar de fake news um fato comprovadamente verdadeiro!

    Candidatas a vereadoras apresentam propostas e aproveitam campanha para combater bolsonarismo no MA


    A 2ª edição do Diálogo com Candidatas a Vereadoras de São Luís, realizado nesta quinta-feira, 15, no formato virtual, debateu 16 temas escolhidos previamente pela equipe organizadora e sorteados para comentários e apresentação de propostas das candidatas, acentuando a participação da mulher em espaços de poder. Com pouco mais de 52,7% do eleitorado de mulheres, São Luís experimenta a oportunidade de alargar a participação feminina no parlamento e nos espaços de poder.

    Promovida pelo Fórum Maranhense de Mulheres e Conselho Municipal da Condição Feminina de São Luís, o diálogo foi conduzido pela radialista Rose Castro e contou com participação de Mary Ferreira e Cricielle Muniz, ambas do PT, Lohanna Pausini (Cidadania) e Jesus Reis (PSB), Preta Luz, Rose Sales, Rosângela Bertoldo e outras.

    “Sou candidata por algumas razões; a primeira delas para combater o Bolsonarismo. Considero esse momento chave para nonos organizarmos enquanto mulheres, enquanto feministas. Nesse momento é o Jair Bolsonaro, o maior inimigo das mulheres, dos negros e dos pobres”, justificou Mary Ferreira. Com mais de 30 anos militando no movimento feminista e na defesa da difusão da leitura, Mary Ferreira acredita que o momento é de garantir a fala das mulheres.

    O diálogo contou ainda com a participação de Lohana Pausini (Cidadania), a primeira candidata mulher trans na disputa eleitoral em São Luís. “Estou na disputa eleitoral em defesa do movimento LGBT como um todo”. Somos uma comunidade desassistida das políticas públicas.

    Mary Ferreira comentou sobre a segurança alimentar para as crianças, ressaltando o direito ao consumo de alimentos saudáveis. Segundo a professora da UFMA, há um vínculo forte entre poder aquisitivo e segurança alimentar neste momento é preocupante. “Estamos assistindo ao esfacelamento das políticas sociais, entre elas aquela que garantia a geração de trabalho e renda por meio da agricultura familiar. É a produção desse setor que tem garantido o alimento para a população de baixa renda”.

    “Cumprimos nosso papel. Estamos de olho nessas eleições, onde o número de mulheres é um dos maiores já registrados nos últimos pleitos”, assinalou Neuzeli Pinto, do Fórum Maranhense de Mulheres.

    “Precisamos compor uma fileira de participação no contexto das políticas públicas. Nosso papel nessas eleições é decisivo, pois somos maioria do eleitorado e precisamos valorizar nosso voto. Eu sou quem decidimos”, disse Silvia Leite, integrante do Fórum.

  • Deu no D.O

    • A coluna Deu no D.O. está no ar com os generosos contratos dos nossos divinos gestores públicos. Dos caixões (R$ 214 mil) de Itapecuru-Mirim ao material de limpeza de Coroatá (R$ 2 milhões), ainda figuram Viana, Matões, Porto Rico e São José de Ribamar. 
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