Braide usa crianças na farsa da entrega de obra de reforma já entregue por Edivaldo em escola no Jaracati
O prefeito Eduardo Braide entregou no último dia 9 de julho, no bairro do Jaracati, a mesma UEB (Unidade de Educação Básica) Pedro Marcosini Bertol entregue pelo ex-prefeito Edivaldo Holanda na noite de 15 de dezembro de 2020, conforme registro de fotos e matérias de jornais.
As únicas diferenças são o nome do programa de obras, que antes era Educar Mais e agora Escola Nova; a cor da(e) fachada, do vermelho para o azul, e o uso de crianças fardadas para compor a propaganda enganosa, travestida de cobertura jornalística da entrega de grandiosa obra de reforma.
O art.18 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece que “é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”.
Com as aulas presenciais suspensas por motivo da pandemia, divulgar fotografias nos jornais e sites (todos os caminhos levam às redes sociais) com crianças fardadas fingindo ler um livro sob o olhar atencioso do prefeito ou com ele dividindo uma mesa de estudo em uma escola fechada, é no mínimo atentar contra a dignidade dessas crianças. Por mais que ilustre uma reportagem que corresponda à realidade dos fatos. O que não é o caso. É muito pior.
A prefeitura de São Luís utilizou crianças para montar um farsa . As cenas com as estudantes foram premeditadas como um produto de mídia. Os senhores do La Ravardière precisavam responder à campanha promovida pelo Sindicato dos Profissionais do Magistério da Rede Municipal de São Luís – Sindeducação, que expôs não só o estado de abandono das escolas, mas a falta de condições mínimas de segurança sanitária para o retorno das aulas presenciais em 90% das UEBs. O temor é que a denúncia possa levar à pique a imagem que sustenta a administração Braide, o sucesso da vacinação contra a Covid-19.
Veja as condições das escolas e o material da campanha promovida pelo Sindeducação
O arremedo também é uma tentativa de conter o escândalo dos 80 mil chips e tablets que deixaram de ser distribuídos aos alunos e professores da rede municipal. Licitada na gestão anterior, o prefeito Eduardo Braide suspendeu a compra do ‘kit tecnológico’, considerado essencial na aplicação de aulas remotas durante a pandemia. Esse foi um dos motivos da demissão da vice-prefeita Esmênia Miranda da Secretaria Municipal de Educação.
A montagem da farsa fica evidente na matéria e fotos disponibilizadas na página oficial da prefeitura de São Luís. Comparando-as com o mesmo material distribuído pela administração Edivaldo Holanda percebe-se que não tiveram nem mesmo a preocupação de criar uma narrativa focada nos novos reparos necessários à obra ‘inacabada’ entregue pelo ex-prefeito, tampouco a de evitar fotografias que pudessem revelar a ridícula encenação. São praticamente iguais as registradas quando da entrega de 15 de dezembro.
Foto distribuída quando da entrega das reformas em 15 de dezembro de 2020 Foto distribuída pela assessoria de Braide em 7 de julho de 2021
Sala de aula do Pedro Marcosini entregue em dezembro de 2020 Sala de aula do Pedro Marcosini entregue em Julho de 2021
O risco de negar um fato tão próximo, amplamente divulgado e facilmente verificável, inclusive pelos moradores e colegas das crianças no Jaracati, bairro onde seis meses antes, o ex-prefeito entregou, além da reforma da Pedro Marcosini, obras de drenagem, asfaltamento e uma praça em clima de grande festa, é um acinte ainda maior às garantias legais previstas tanto na Constituição Federal, quanto no ECA.
O uso premeditado das crianças é manifesto. Nada justifica uma escola com 240 alunos comparecerem ao evento de entrega das reformas somente os integrantes da fanfarra e os figurantes que modelaram o protagonismo do prefeito-herói. Nem mesmo as mães, que têm natural interesse em um futuro melhor para seus filhos, apareceram para conhecer as novas condições de ensino.
A indiferença e o descaso da prefeitura de São Luís com as consequências danosas ao futuro dessas crianças, ao serem ridicularizadas ou constrangidas pelos amigos do próprio bairro, afinal elas fingiram estudar ao lado do prefeito, são gritantes.
O próprio leitor poderá averiguar e dimensionar a seu critério o tamanho do disparate, que a meu ver é de um cinismo criminoso. Os rostos das crianças foram desfocados (recurso da lupa) pelo blog para evitar propagar ainda mais o abuso.
Primeiro observe nas reproduções abaixo dos textos distribuídos que as palavras da assessoria de Braide sobre as obras de reforma na Marcosini Bertol foram praticamente as mesmas das utilizadas por Edivaldo. O telhado virou forro, a pintura completa virou pintura interna e externa e o mobiliário virou mesas e cadeiras. Se houvesse um seis no passado, no presente paralelo, seria meia dúzia!
Veja
Ja uma imagem vale por mil palavras e para que que não reste qualquer sombra de dúvidas, observe o Globo nos retratos abaixo. No primeiro, referente ao registro da reforma entregue pelo ex-prefeito, ele está no canto e o destaque são as novas mesas e cadeiras da sala de estudo. No panorama seguinte, ele ocupa o centro da cena, cercado pelas crianças fardadas e, claro, do prefeito Braide, magnânimo. Mas, pelo menos, mesmo com a reforma de Braide, a terra continuou redonda.
Foto da biblioteca da UEB Marcosini Bertol entregue por Edivaldo Foto da mesma biblioteca entregue por Braide em julho de 2021
Opinião
Se não inventou a roda ou incendiou Roma, não há o que se falar, para o bem ou para o mal, sobre grandes obras nos primeiros seis meses de qualquer governo. Na ausência de motivos para dar publicidade, a entrega das obras de reforma do Pedro Marcosini foi uma invenção para fazer propaganda. A publicidade dar conhecimento de uma realidade. A propaganda vende uma realidade que você deseja que os outros venham a creditar. A linha que separa uma da outra é tênue e, de acordo, com o ponto de vista, as duas se confundem ou se revelam. Na publicidade financiada com dinheiro público, o gestor presta conta à sociedade. Na propaganda, ele mete na conta da sociedade.Em ambos os casos, não se pode enganar os fatos e as razões do tempo.
O caso da entrega de uma obra de reforma já entregue na gestão anterior tem que ser investigado, principalmente se houve dispêndio de recursos públicos ou improbidade administrativa. No entanto, o importante nessa questão é que o prefeito Eduardo Braide responda pelo uso de crianças fardadas para compor o cenário de entrega de obras de reformas de uma escola fechada por motivo da pandemia, por mais que ele realmente tenha feito alguma reforma, embora as fotos divulgadas mostrem o contrário.
Neste sentido, é fundamental que o Ministério Público, Defensoria Pública e entidades da sociedade civil entrem em campo e defendam as garantias legais previstas pela Constituição Federal e o Estatuto da Criança do Adolescente. E que o prefeito Eduardo Braide arque, se for o caso, com o peso de sua irresponsabilidade.