Entre o desconforto, a ironia e a compaixão, os versos de Fernando Abreu se espalham e transbordam afeto

Poeta egresso da famigerada Akademia dos Párias, que trinta anos depois ainda dá pano pras mangas, Fernando Abreu acaba de publicar mais uma coletânea de poemas. Em “Esses são os dias” (7Letras), o leitor vai encontrar o aprofundamento do tom oral e reflexivo que vem marcando sua produção nos últimos anos, vale dizer, nos dois últimos dois livros também publicados pela casa carioca, a mais tradicional das alternativas.


É o próprio poeta quem, em tom de blague, chama o que faz de poesia falada, pelo jeito que assume muitas vezes de conversa com o leitor, ou de poesia prosaica, em oposição à prosa poética, inaugurada por nomes como Baudelaire e praticada largamente até os dias correntes. Humor, aliás, muito bem vindo, em oposição ao formalismo pretensioso que se encontra a toda hora em bardos que por pouco não vão à praia com os fardões e togas das inumeráveis Academias de Letras que pipocam em todos os cantos do estado. Se é que vão à praia.


Para Fernando Abreu, que também é jornalista e letrista de música popular, academia mesmo só a dos Párias e olhe lá. Opção que é mais pelo temperamento sóbrio e reflexivo do praticante de meditação e tai chi chuan do que por uma irreverência que nunca ostentou. “Cada um na sua, não é? Atacar a academia a essa altura me soa tão clichê quanto entrar para uma delas”, brinca. A propósito, lembra que em tempos de ameaça fascista mais vale vestir fardão do que ostentar a suástica.


O tom sóbrio dos 35 poemas que integram a coletânea não esconde, porém, aspectos que sempre foram marcantes na poesia do maranhense, conforme destaca o poeta e jornalista Celso Borges na orelha do livro. “Entre o desconforto, a ironia, a rotina e a compaixão, seus versos se espalham e transbordam afeto”.


Além de Borges, companheiro de longa data, três outros poetas se revezam em textos sobre o livro: os maranhenses Luís Inácio Oliveira (autor do prefácio) e Luís Augusto Cassas e o curitibano/paulista Ademir Assunção. Este último também entrevistou o poeta no final do ano passado para o Podcast “Pedra de Toque”, do Itaú Cultural, ao lado de outros 23 poetas de todo o país. O programa será exibido até o final deste ano. “Torci para que o programa fosse ao ar coincidindo com o lançamento em São Luís, mas como fui o último a ser entrevistado e o livro fico pronto antes, não fazia sentido esperar mais tempo”, explica.

Respostas de 2

    1. Mhario fico honrado em ser republicado na sua plataforma. Aliás, aproveito para perguntar onde encontro exemplar de seu livro sobre a princesa INA ? ë INA se não me engano. Mas é um livro importante que quero reler e usar como referência. Abraços fraternos.

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