CNBB lança mensagem profética e contundente contra as políticas do governo

“Uma economia que coloca o lucro acima da pessoa, que produz exclusão e desigualdade social, é uma economia que mata”, alerta CNBB

Bispos brasileiros reunidos durante a 57ª Assembleia Geral da CNBB realizada em Aparecida (SP)

Do site do Instituto Humanitas Unisinos

Os bispos brasileiros parecem ter compreendido a difícil situação que o país passa e se posicionado claramente e com força contra uma realidade que, sem nomeá-las, tem como causa as políticas do atual governo. Com palavras proféticas, numa mensagem lançada durante a 57ª assembleia geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, eles mostram que a Igreja deve estar ao lado dos pobres, cada vez mais pobres em um país onde “o aumento das desigualdades e a concentração de renda em níveis intoleráveis” é uma realidade cada vez mais evidente.

O comentário é de Luis Miguel Modino Martinez, padre e jornalista.

Mensagem da CNBB: “A crise ética, política, econômica e cultural tem se aprofundado cada vez mais no Brasil. A opção por um liberalismo exacerbado e perverso, que desidrata o Estado quase ao ponto de eliminá-lo, ignorando as políticas sociais de vital importância para a maioria da população, favorece o aumento das desigualdades e a concentração de renda em níveis intoleráveis, tornando os ricos mais ricos à custa dos pobres cada vez mais pobres”

No Brasil, cada dia são mais visíveis os “os sinais de morte que ameaçam os filhos e filhas de Deus, especialmente, os mais vulneráveis”, o que faz necessária uma atitude clara, como aparece na mensagem, mostrando que ninguém pode servir a dois senhores, Deus e o capital, com quem o atual governo está claramente alinhado, apoiando “um liberalismo exacerbado e perverso, que desidrata o Estado quase ao ponto de eliminá-lo, ignorando as políticas sociais de vital importância para a maioria da população, favorece o aumento das desigualdades e a concentração de renda em níveis intoleráveis”.

A nota dos bispos enumera todos os elementos da política seguida pelo governo, que não tem qualquer semelhança com as promessas eleitorais que levaram o povo brasileiro a elegê-lo, um voto que para muitos já é motivo de arrependimento, pois o fim da corrupção, uma das promessas, está longe de se tornar realidade, como mostrado na mensagem, que diz que “a corrupção, classificada pelo Papa Francisco como um “câncer social” profundamente radicada em inúmeras estruturas do país, é uma das causas da pobreza e da exclusão social na medida em que desvia recursos que poderiam se destinar ao investimento na educação, na saúde e na assistência social, caminho de superação da atual crise”.

Diante do desemprego, que está crescendo exponencialmente, atingindo 13 milhões de brasileiros, somados aos 28 milhões de subutilizados, a política do governo “mostra que as medidas tomadas para combatê-lo, até agora, foram ineficazes”, algo que é agravado por uma reforma trabalhista aprovada no final de 2018, que não preserva “os direitos dos trabalhadores”, afastando-se dos princípios da Doutrina Social da Igreja, o que faz referência ao que o Papa Francisco diz na Evangelii Gaudium.

Mensagem da CNBB: “O verdadeiro discípulo de Jesus terá sempre no amor, no diálogo e na reconciliação a via eficaz para responder à violência e à falta de segurança, inspirado no mandamento “Não matarás” e não em projetos que flexibilizem a posse e o porte de armas”.

Tendo em conta que a violência tem crescido a limites inaceitáveis, os bispos lembram “o choro das mães que enterram seus filhos jovens assassinados, das famílias que perdem seus entes queridos e de todas as vítimas de um sistema que instrumentaliza e desumaniza as pessoas, dominadas pela indiferença”, que se traduz em “feminicídio, o submundo das prisões e a criminalização daqueles que defendem os direitos humanos”. Diante disso, os bispos brasileiros, “reclamam vigorosas ações em favor da vida e da dignidade humana”, se mostrando contra “projetos que flexibilizem a posse e o porte de armas”, uma das bandeiras do atual governo brasileiro, que pensa que a melhor maneira de combater a violência é mais violência. É por isso que a nota deixa claro que “precisamos ser uma nação de irmãos e irmãs, eliminando qualquer tipo de discriminação, preconceito e ódio”.

Um dos grupos mais visados pelo governo, os povos originários, que “não são respeitados em seus direitos e costumes”, o que viola os direitos “assegurados na Constituição de 1988”, são claramente defendidos pela CNBB, dizendo que “poder político e econômico não pode se sobrepor a esses direitos”. Portanto, é inaceitável para o episcopado brasileiro “a mercantilização das terras indígenas e quilombolas (que) nasce do desejo desenfreado de quem ambiciona acumular riquezas”, o que se traduz em “atividades de mineradoras e madeireiras quanto o agronegócio”, que segundo os bispos “precisam rever seus conceitos de progresso, crescimento e desenvolvimento”.

Mensagem da CNBB: “A mercantilização das terras indígenas e quilombolas nasce do desejo desenfreado de quem ambiciona acumular riquezas”

É inaceitável nas políticas do novo governo, “uma economia que coloca o lucro acima da pessoa, que produz exclusão e desigualdade social”, porque como o Papa Francisco repetiu muitas vezes, isso “é uma economia que mata”. Nesse sentido, a mensagem coloca como exemplo o que aconteceu em Mariana e Brumadinho, onde uma mesma empresa, a Vale SA, tem provocado crimes que causaram centenas de vítimas e graves desastres ambientais, que não têm sido punidos por um governo que sempre deixou claro que está mais preocupado em satisfazer os interesses das grandes empresas do que com o povo brasileiro.

Outra crítica que aparece na nota é dirigida contra a Reforma da Previdência, um dos grandes desejos do atual governo, que está disposto a subornar deputados e senadores para atingir os seus fins, porque “nenhuma reforma será eticamente aceitável se lesar os mais pobres”, o que exige das igrejas para ser “autênticas sentinelas do povo”, junto com “os movimentos sociais, as organizações populares e demais instituições e grupos comprometidos com a defesa dos direitos humanos e do Estado Democrático de Direito” algo que tenta ser destruído pelo governo, como ficou demonstrado com o recente decreto 9.759/ 2019.

Mensagem da CNBB: “As necessárias reformas política, tributária e da previdência só se legitimam se feitas em vista do bem comum e com participação popular de forma a atender, em primeiro lugar, os pobres, “juízes da vida democrática de uma nação” (Exigências éticas da ordem democrática, CNBB – n. 72). Nenhuma reforma será eticamente aceitável se lesar os mais pobres”

É essencial para os bispos “uma sociedade cujo desenvolvimento promova a democracia, preze conjuntamente a liberdade e a igualdade, respeite as diferenças, incentive a participação dos jovens, valorize os idosos, ame e sirva os pobres e excluídos, acolha os migrantes, promova e defenda a vida em todas as suas formas e expressões, incluído o respeito à natureza, na perspectiva de uma ecologia humana e integral”, um parágrafo que concentra as críticas para com uma sociedade cada vez mais polarizada e confrontada, consequência das declarações do governo, que visa a criação de uma sociedade homogênea, que descarta quem não produz e vê na natureza uma despensa para tirar o necessário que garanta o crescimento econômico, mesmo que isso signifique comprometer o futuro do país e do planeta.

Muitos destes aspectos são refletidos nas novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, aprovadas na 57ª Assembleia da CNBB, sendo destacado o processo do Sínodo para a Pan-Amazônia, elementos de particular importância para a Igreja do Brasil, porque são aspectos que podem ajudar “com a construção de uma sociedade desenvolvida, justa e fraterna”.

Leia a Mensagem da CNBB Aqui

Respostas de 2

  1. Os padres deveriam se preocupar com a evangelização dos católicos e deixarem de serem COMUNISTAS e ESQUERDOPATAS, devem se preocupar com o problema da pedofilía dentro da igreja, do acorbertamento destas práticas por membros doclero,superior e outros problemas que veem afligindo a Igreja Católica. É por essas e outras que o catolicismo esta cada vez mais perdendo adeptos, enquanto avançam os Evangélicos e os Mulçumanos. Menos esquerdismo e mais práticas cristãs.

    1. Sem contar que a CNBB não é um órgão reconhecido pelo Vaticano. Não fala pela Igreja. Fala pelos interesses dos bispos – que sendo adeptos do comunismo já estão automaticamente excomungados. São sepulcros caiados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais que Azulejos: Por que o Palacete da Rua Formosa deve ser a Casa da Imprensa Maranhense

PF constata que vigília serviria para encobrir fuga após registro de violação de tornozeleira – Leia íntegra do pedido de prisão

PF prende Bolsonaro sem algemas e sem exposição midiática por determinação do STF

I.A. do Google manipula narrativa para negar tentativa de Trump intervir no STF

Deu no D.O

Festa da Juçara é oportunidade de inserir fruto maranhense no mercado

"Quando o mal triunfa o bem se esconde; quando o bem aparece, o mal fica de tocaia"

Wisława Szymborska