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    O Brasil que não perdoou Sobel pelas gravatas canonizou Gugu pelo lixo que levou à TV

    Henry Sobel fez história na luta contra a Ditadura

    Por Kiko Nogueira

    A maneira como o brasileiro reagiu à morte de Gugu Liberato e de Henry Sobel, no mesmo dia, dá uma dimensão da nossa encrenca psicotrópica-moral.

    Sobel foi um gigante que ajudou a enterrar a ditadura quando se recusou, em outubro de 1975, a sepultar Herzog como suicida no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo.

    O jovem rabino viu as marcas de tortura e não comprou a versão oficial do Exército.

    Na semana seguinte, comandou uma missa ecumênica histórica com dom Paulo Evaristo Arns, à época arcebispo de São Paulo, e o pastor Jaime Wright na Catedral da Sé.

    Tinha 31 anos. (Meu pai, o jornalista Emir Nogueira, fez parte da organização).

    Sobel não encarou apenas o regime militar.

    Sofreu resistência da comunidade judaica, que nunca deixou de ser conservadora. Mesmo assim, foi adiante.

    A internet não perdoou Sobel quando ele faleceu.

    O episódio em que ele furtou gravatas foi mais lembrado que sua batalha pela democracia.

    Aconteceu numa loja em Miami em 2008. Ele passou uma noite na cadeia. De volta ao Brasil, se internou e revelou o uso de remédios. Foi humilhado, julgado e escorraçado.

    Acabou afastado da CIP, Congregação Israelita Paulista.

    Em 2013, admitiu “uma falha moral”. “Peço perdão a todos”, falou. Repetiu essa penitência ao longo da vida.

    Nunca foi perdoado. Nem no caixão.

    Gugu Liberato foi vítima de um acidente fatal ao cair de uma altura de 4 metros quando fazia reparo no ar-condicionado no sótão de sua mansão de 629 metros quadrados em Orlando.

    (Seis quartos, sete banheiros e uma área externa descrita no site realtor como um “oásis particular com uma encantadora piscina de água salgada, equipado com spa, cozinha e uma lareira a gás”).

    Por razões óbvias, seu passamento teve muito mais repercussão que o do outro.

    Mas sua “obra” está sendo festejada.

    Segundo a Folha, ele é “dono de uma das trajetórias mais brilhantes da TV brasileira”. 

    O El Pais o descreve como alguém que “mudou a TV”.

    Um vice-presidente da CNN Brasil citado pelo jornal o classifica como “bom entrevistador porque ouvia atentamente o que o entrevistado dizia e não se desconcentrava pensando na próxima pergunta”.

    “Tinha uma curiosidade genuína, mas não agressiva. Era educado, polido, sutil”.

    Ora.

    Cria de Silvio Santos, eterna cara de menino, Gugu ficou notório com um atração chamada Domingo Legal, um vale tudo ordinário no SBT.

    Na guerra pela audiência, criou um pornô soft numa banheira, entrevistava assassinos famosos, cobriu a “exumação” do cadáver de Dercy Gonçalves.

    O ponto mais baixo foi a farsa do PCC em 2003, quando dois “membros” da quadrilha falaram ao programa.

    Os picaretas encapuzados receberam 500 reais cada um para mentir diante do apresentador, que fingia surpresa.

    Um antecessor das fake news de massa.

    Gugu nunca admitiu ter conhecimento da fraude. Cascata completa que ele jamais reconheceu. 

    Sua morte aos 60 é uma tragédia, claro. A questão não é pessoal.

    Mas seu legado foi contribuir com mais lixo para o monturo da televisão aberta brasileira. Gugu não foi visto, em décadas, indicando um mísero livro.

    Henry Sobel será velado nos EUA numa cerimônia discreta.

    Gugu Liberato, na Assembleia Legislativa de São Paulo. Doria decretou três dias de luto em sua memória.

    Bolsonaro prestou solidariedade à família de somente um deles. Você sabe qual.

    Sobel não teve perdão. Gugu nunca precisou pedir.

    Em mau estado

    Lula sendo carregado pela multidão até a porta do Sindicato dos Metalúrgico de São Bernardo

    Janio de Freitas

    “Lula livre” se insere em momento muito particular da difícil batalha pela democracia na América Latina

    O povo chileno explode como uma bomba de retardamento contra a opressão econômica, e inovações justiceiras são inevitáveis. No Equador, o eleitorado traído de Lenín Moreno tomou-lhe as forças e cobra a dívida multissecular. 

    Na Argentina renasce uma ideia de solidariedade latino-americana contra a sufocação imposta pelas políticas econômicas elitistas. O México reencontra com López Obrador uma concepção de soberania real e sentido de democracia. Esse tabuleiro parecia ter uma casa reservada para Lula, em lugar estratégico.

    Até onde permanecerá a liberdade de Lula é a primeira incógnita que sua nova condição propõe. Não só pela combinação de pendências judiciais e má disposição de parte do Ministério Público e do Judiciário quanto a esses processos, e outros imagináveis.

    Além disso, duas manifestações (duas até a elaboração deste texto) transmitem a contrariedade do segmento militar com a nova situação que também o derrota. A liberdade de Lula tem inimigos ativos.

    comentário do vice e general Hamilton Mourão ao restabelecimento do princípio constitucional da presunção de inocência, até que completado o trâmite do processo penal, foi claro na mensagem e no destinatário: “O Estado de Direito é um dos pilares da nossa civilização, assegurando que a lei seja aplicada igualmente a todos, mas hoje, 8 de novembro de 2019, cabe perguntar: onde está o Estado de Direito no Brasil? Ao sabor da política?”.

    A resposta é simples: o Estado de Direito está no texto da Constituição. Só nele, em letras. E não em qualquer outra parte mais. Não há Estado de Direito onde um general (Eduardo Villas Bôas) pressiona e intimida a corte suprema do país, contra decisão com eventual benefício a um político preso —por deduzido e improvado crime comum, não por tentativa ou golpe contra a Constituição, como tantos já fizeram aqui tantas vezes.

    Nem há Estado de Direito onde o mesmo porta-voz, colhido o efeito desejado na primeira investida, volta à mesma pressão intimidatória antes de nova decisão da corte maior.

    Não pode haver Estado de Direito onde o poder militar, poder armado, pretende definir o destino judicial e cívico de um político. Não ao sabor da Constituição. “Ao sabor da política?” Não. Ao sabor da força das armas, fornecidas pelo restante da população para a defesa da nação —esta fusão fascinante de povo, Constituição, leis, território, cultura, costumes, história—, e não só do capital privado.

    No Estado de Direito em vão procurado pela pergunta acabamos de saber que ao começar o ano já eram 13,5 milhões os miseráveis, 50% a mais sobre os 9 milhões de quatro anos antes. 

    Diz o levantamento que são pessoas vivendo com menos de R$ 145 por mês. Menos de. Dispõem em média, portanto, no máximo R$ 4,83 por dia. Como comem, essas pessoas? Como se aguentam por todo um dia, por todos os dias, com a miséria de comida a que têm acesso? É insuportável pensar nisso. É insuportável pensar no tratamento dado aos pedintes, no descaso com esses farrapos de vida. Não vivem em Estado de Direito, estão condenados ao estado de miséria.

    Bolsonaro proíbe a queima do maquinário de mineradores clandestinos na Amazônia. Já está claro: há um pedido dele para formulação de medida que legalize essa atividade. No Estado de Direito não se legalizaria o crime. Tanto mais por haver indícios fortes de que o controle dessa mineração está em milícias, com policiais e ex-policiais, não sediadas só na Amazônia. É o novo poder em expansão. Contra o direito do Estado e o Estado de Direito.

    Na sessão do Supremo que reconheceu a Constituição e contrariou os defensores, na dura acusação do decano Celso de Mello, prática “própria de regime autoritário e autocrata”, Dias Toffoli puxou uma rodada de informações e considerações, muito impressionantes, sobre a criminalidade, a impunidade e a situação prisional no Brasil. 

    Mas não precisariam ser todos tão caudalosos. Bastaria lembrar que nem o clamor público, interno e internacional, foi capaz de vencer a barragem entre o assassinato de Marielle e Anderson e o que seria a investigação honesta do crime, seus antecedentes e envolvimentos pessoais: corrupção, milícias, vários crimes, poder, todos vasculhados e revelados.

    Sem o Estado de Direito, o que viceja é o Estado de direita.

    Janio de Freitas

    Jornalista

    O que significa a defesa de um novo AI-5?

     

    Mário de Andrade Macieira *

    Num tempo, página infeliz da nossa história,/Passagem desbotada na memória/ Das nossas novas gerações/ Dormia, a nossa pátria-mãe tão distraída/ Sem perceber que era subtraída/ Em tenebrosas transações.(Chico Buarque)

    O grande sociólogo português Boaventura de Sousa Santos já advertia que as democracias também morrem democraticamente. Afirmou ele:

    Continuam a ser possíveis rupturas violentas e golpes de Estado, mas é cada vez mais evidente que os perigos que a democracia hoje corre são outros, e decorrem paradoxalmente do normal funcionamento das instituições democráticas”.

    “As forças políticas anti-democráticas vão-se infiltrando dentro do regime democrático, vão-no capturando, descaracterizando-o, de maneira mais ou menos disfarçada e gradual, dentro da legalidade e sem alterações constitucionais, até que em dado momento o regime político vigente, sem ter formalmente deixado de ser uma democracia, surge como totalmente esvaziado de conteúdo democrático, tanto no que respeita à vida das pessoas como das organizações políticas.”[1]

    Na tarde de ontem, fomos todos mais uma vez surpreendidos pelo discurso antidemocrático manifestado através de um dos membros do Congresso nacional e filho do Presidente da República, que defendeu um “novo AI 05” se as manifestações da esquerda se radicalizassem.

    Não foi a primeira vez. As ameaças à democracia são reverberadas cotidianamente pelos Bolsonaros e pelas forças que o apoiam, poderiam ser enumerados diversos exemplos , ameaças contra o Supremo, a apologia a tortura, a tentativa de controle ideológico da liberdade de cátedra, anuncio de eliminação física dos adversários que passaram a ser vistos como inimigos, licença para matar concedida a policiais, e muito outros tipos de ameaça, como o ataque à liberdade de imprensa e a tentativa de estrangular as organizações sindicais e estudantis.

    Como alerta Boaventura, vai havendo um esvaziamento de todo conteúdo democrático das instituições, embora formalmente elas permaneçam democráticas, nesse processo tem grande peso a eleição de autocratas; a ilimitada influência do poder econômico sobre os processos de deliberação democráticos, numa verdadeira plutocracia; as fakenewse o controle das redes sociais por algoritmos nas redes sociais, que poderia ampliar fortemente a participação democrática dos cidadãos, porém tem se prestado à distorção de consciências, sentimentos e crenças, impulsionadas pelo chamado big-data.

    O processo descrito pelo sociólogo lusitano parece se encaixar perfeitamente ao pesadelo que vivemos no Brasil após a eleição do neofacista Bolsonaro e da efetivação de sua interminável série de ataques à Constituição em todos os campos. No plano dos direitos civis e políticos, no plano das liberdades individuais, no plano dos direitos econômicos e sociais e no plano dos direitos ambientais e culturais, seria exaustivo enumerar tatos ataques.

    O mais recente e mais violento, a defesa de um novo AI 5 foi apenas um ponto de um processo de ataque à democracia que tende a se agravar se as forças populares e democráticas não forem capazes de organizar uma contundente e decidida resistência ao arbítrio e de proteção à Democracia.

    Para recordar, porque como disse o poeta, são fatos talvez desbotados da memória das novas gerações, vale registrar que o AI 05 implicou na alteração da própria Constituição, na suspensão das atividades dos parlamentos, na cassação de mandatos de governadores, prefeitos, deputados (estaduais e federais), senadores, magistrados e todos os demais funcionários públicos, inclusive professores. Implicou na cassação dos direitos políticos dos adversários do regime, na possibilidade de que o Presidente da República decretasse a suspensão do funcionamento das casas legislativas, o Estado de Sítio, a intervenção em estados e município, a supressão da garantia do Habeas Corpus, abrindo margem para prisões, torturas, desaparecimentos e banimentos.

    A defesa da adoção de um novo AI 05 deve implicar urgente e forte sanção contra o parlamentar que, no caso, não pode invocar a imunidade parlamentar para atentar contra a Constituição. Deputados e Senadores também respondem por crimesde responsabilidade.

    A defesa de tal ruptura com a Constituição, só por si mesma, por significar apologia ou incitação ao crime (art. 287 do CP). Não se opõe a imunidade parlamentar contra a defesa aberta de um golpe de Estado, nesse caso submete-se o parlamentar à perda do mandato por quebra do decoro parlamentar (art. 55, II) da Constituição.

    Teria a Constituição de 1988 ainda força e densidade normativa para ser imposta contra seus inimigos?

    [1]http://midianinja.org/boaventurasousasantos/as-democracias-tambem-morrem-democraticamente/

    • Mário Macieira é professor da UFMA, Mestre em Direito pela UFPE, ex-presidente da OAB/MA

    Crise no Peru mostra que a direita na América Latina está se esfacelando

    O presidente do Peru, Martín Vizcarra

    Por Moisés Mendes

    Direita e extrema direita se matam de novo no Peru, um país onde o palácio do governo tem o nome de Francisco Pizarro.

    Não há como um país dar certo, se o palácio onde trabalha e mora o presidente foi batizado com o nome do colonizador assassino de Atahualpa e chefe sanguinário dos massacres que deflagraram o fim do Império Inca.

    A Praça das Armas, onde fica o palácio (e onde está a catedral com os restos de Pizarro, porque há Pizarro por toda parte, por influência da Igreja), é um ambiente cinzento sob o céu nublado de Lima, como se o inesperado estivesse sempre à espreita.

    Martín Vizcarra, o presidente acossado pelo fujimorismo, seria um esquerdista perto de Bolsonaro. Mas ele e os golpistas da extrema direita têm quase todos a mesma origem.

    A direita latino-americana está se esfacelando, às vezes sem a ajuda da esquerda.

    Os generais de Bolsonaro

    O presidente Jair Bolsonaro e o vice, Hamilton Mourão

    Por Moisés Mendes

    O bolsonarismo nos ajuda a enxergar o que talvez nunca viesse a ser exposto sem a extrema direita no poder: não há uma elite de generais no Brasil com um mínimo de brilho ou de pensamento complexo, como havia na ditadura.

    Há apenas operadores a serviço de Bolsonaro. Ou há elite pensante entre os que estão fora do poder? Ou esses que estão aí podem ser considerados de elite? Ou o conceito de elite mudou?

    O vice, general Hamilton Mourão, de quem alguns esperavam alguma coisa e hoje ninguém espera mais nada, escreveu ontem essa barbaridade no Twitter:

    “Na data de hoje, em 1532, o Rei D. João III criava as #capitanias no #Brasil. Descoberto pela mais avançada #tecnologia da época, o País nascia pelo #empreendedorismo que o faria um dos maiores do mundo. É hora de resgatar o melhor de nossas origens”.

    Imaginem que o homem publicou #capitanias assim mesmo, com hashtag, imaginando que sua surpreendente análise iria bombar. E bombou, submetida a todo tipo de sarro.

    Fernando Haddad acompanhou as reações da maioria e escreveu:
    “Opinião de um dos cérebros do governo”.

    Algum déficit de formação pode ter mediocrizado os generais a ponto de um deles defender as capitanias hereditárias como exemplo de empreendedorismo e de outro pregar que a Terra é plana. Os acadêmicos poderiam investigar.

    Se eles pensam assim na paz, nos atemoriza o que poderiam pensar numa guerra, se Bolsonaro decidir invadir a Venezuela ou se a China invadir a Amazônia.

    Antonio Carlos Alvim lança Floresta de signos neste sábado

    O poeta maranhense Antonio Carlos Alvim, um dos membros da Academia dos Párias, grupo de poetas que agitou a cena cultural da cidade na década de 1980,  estreia em livro com “Floresta de signos” da editora Pinalux.  O lançamento será neste sábado, 21, no café Guará, no centro de São Luís.

    O poeta Antonio Carlos Alvim

    Insurgente e instigante
    (*) Fernando Abreu
    Antonio Carlos Alvim já era um poeta pronto quando se juntou à Academia dos Párias, grupo
    surgido nos corredores da Universidade Federal do Maranhão em meados da década de 1980. Em
    comparação à maioria de nós, apresentava uma poesia madura e consciente de suas possibilidades.
    Versado em Walt Whitman, com quem dialogava abertamente, nos apresentou o bardo
    estadunidense. E ainda por cima era sobrinho de Ferreira Gullar. Credenciais portanto não lhe
    faltavam.
    Cerca de trinta anos se passaram e agora tenho a alegria de poder dizer algumas palavras sobre sua
    estreia em livro. Não se trata de uma estreia tardia, porque as coisas acontecem quando e como
    podem acontecer. Diria, sim, esperada, e muito, por dezenas de pessoas que o admiram desde
    aqueles heroicos tempos boêmios.
    Daquele tempo, por sinal, é boa parte dos poemas dessa coletânea, a exemplo da primorosa série
    que abre o livro, inspirada na cidade histórica de Alcântara. Foi graças a poemas como esses que
    Antonio Carlos Alvim ganhou o respeito não apenas de seus companheiros de viagem, a bordo da
    lindamente insensata nau dos “párias”, mas de todos quantos tiveram a oportunidade de conhecê-los
    e olhos vivos o bastante para apreciá-los.
    Seria lamentável que essa produção (parte dela chegou a sair em um livrinho artesanal de alcance
    limitado) ficasse para sempre confinada em algum lugar do passado. Por isso, essa estreia faz
    justiça não somente ao artista, mas às centenas de leitores que de outra forma ficariam privados do
    contato com uma poesia que tem, sim, muito o que dizer nesse aqui e nesse agora.
    É tocante para quem viveu aqueles anos reler esses poemas, que surgem renovados em sua força.
    Enfeixados lado a lado, eles vibram em cada página, ao lado de poemas mais recentes aos quais se
    irmanam para compor um conjunto que é impossível ler sem envolvimento. Uma visão nutrida no
    sentimento e na investigação dos mistérios da existência.
    Antonio Carlos Alvim vem nos dizer que não perdemos o sentimento do mundo, apesar de todas as
    provas forjadas em contrário. Nesse sentido é um insurgente, muito mais que um sobrevivente. Uma
    insurgência lírica, filosófica e amorosa em favor da poesia e da vida, em todos as esquinas do
    mundo onde quer que elas se cruzem.

    (*) Fernando Abreu é poeta, autor de “Contra todo alegado endurecimento do coração” e “Manual
    de Pintura Rupestre”, entre outros.

     

     

    Sandra,

    Sandra veio do Piauí para estudar em São Luís. O Serviço Social foi sua opção imediata, na UFMA. Ali conheceu Irmã Lourdes, Josefa, Franci, Etelvina, minha mãe, e outras mestras que lhe iniciaram na carreira exitosa. Cedo abdicou da Academia em favor da luta social, arrastada pelo amor daquele que seria o seu eterno companheiro, Léo Costa.  Desde cedo, viu-se inclinada à luta dos camponeses pela terra, no Município de Barreirinhas, terra natal do Leo.
    Ali chegando, conhece o Monsenhor Cambron, missionário canadense, já envolvido nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), reconhecidas a partir de Medellin, com forte apelo em Tutóia, Bequimão, Urbano Santos, São Benedito do Rio Preto, Itapecuru, Santa Rita, Lago da Pedra e Barreirinhas.  As CEBs faziam parte do movimento de renovação da Igreja, décadas de 50-60, nascidas da angústia de vê-la a serviço dois poderosos e do arbítrio. Para Cambron, que fez a opção pelos pobres da Teologia da Libertação, a sua pátria era o lugar onde moravam.


    Mesmo numa sociedade sem tradição de construção de acervos, Cambron, Sandra e Léo escreveram a seu modo suas memórias de lutas, a partir das Visitas Pastorais que depois viraram Livro de Tombo, iniciativa surpreendente de Dom Fragoso, bispo auxiliar do Maranhão e, depois, bispo de Crateús, no Ceará.
    Todo esse rico ensinamento do Monsenhor Cambron foi assimilado, perseguido e continuado pelo casal, Léo e Sandra, Sandra e Léo. Aqui começa a história revolucionária da guerreira que agora parte para outros mundos, deixando-nos sólido legado de lutas, dores e conquistas.

    Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, também da década de 50, poema dramático com exaltação à tradição pastoril do retirante nordestino, cantado em verso e prosa por Chico Buarque, reforça, ao tempo em que é uma bandeira das esquerdas brasileiras, a visão política de Sandra, permeia sua vida, vida e morte, morte e vida.
    “Esta cova em que estás, com palmos medida
    É a conta menor que tiraste em vida

    É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
    É a parte que te cabe deste latifúndio
    Não é cova grande, é cova medida
    É a terra que querias ver dividida
    É uma cova grande pra teu pouco defunto
    Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
    É uma cova grande pra teu defunto parco
    Porém mais que no mundo, te sentirás largo
    É uma cova grande pra tua carne pouca
    Mas à terra dada não se abre a boca
    É a conta menor que tiraste em vida
    É a parte que te cabe deste latifúndio (É a terra que querias ver dividida)
    Estarás mais ancho que estavas no mundo
    Mas à terra dada não se abre a boca”
    As lutas de Brizola, Darcy Ribeiro, Neiva Moreira e Jackson Lago, os reveses da Ditadura Militar, o Comitê da Anistia da Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos, a luta pelas Diretas Já ganham cedo o coração e a mente da Sandra, que integra o PDT e nele permanece até a morte.

    Fez de sua casa no Monte Castelo um Forte da Resistência, ao lado do seu querido vizinho João Francisco. Não tinha movimento de massa do Partido que não terminasse na sua casa, fosse início ou fim de noite,  onde esperavam todos os militantes uma paçoca sem igual, ou uma camaroada, ou um arroz de Maria Izabel. Neiva e Jackson não se furtavam de repetir as pratadas. Falando nisso, a Sandra, de mãos divinas no preparo da comida, sempre nos falava em código quando lhe perguntávamos a receita de tão deliciosas comidas. Não entendíamos nada, e assim foi até o fim. Levou para Deus seu dote único de Cozinheira da Amizade.
    As funções públicas lhe chegavam abundante às mãos sem que se esforçasse para isso. Assessorias, secretarias, vice-prefeitura de são luís, tudo lhe vinha fácil, tal a certeza que tinham os mandatários de que entregavam em mãos habilidosas tais funções. Honrou todas elas.
     Fez a transferência vitoriosa e sem traumas da população palafitada da Ilhinha para terra firme, primeiro governo municipal sob a batuta do Jackson Lago, talvez seu maior desafio político-administrativo, porque militante social de caminhadas em caminhadas de protestos contra as autoridades e governos, de repente se viu do outro lado da história, entronada em posição governamental de destaque, para coordenar a remoção de famílias de palafitados para terra firme. Nenhum abuso, nenhuma injustiça, saiu-se extraordinariamente bem, dado o seu pulso firme e sua vocação democrática.
     Sandra não foi nem será, simplesmente É, porque continua viva para nós, para seu marido, seus filhos, netos e para seus amigos, dos quais sou um deles, talvez o menor. Fui invadido de um sentimento de orfandade nesses dias. Maíra, Camila, Leozinho e Hermano fazem parte da minha vida, e como qualquer irmão compartilhamos derrotas e vitórias. Por Sandra fui tratado como filho, e ver meu pai se emocionar a cada lembrança e seus olhos marejarem é porque não é fácil se despedir de uma irmã.

    Aziz Junior

    Feira do Livro de São Luís

    Edivaldo Holanda Junior
    Prefeito de São Luís

    Entre tantas riquezas que esta cidade acumulou nos seus 407 anos de história, que serão completados no próximo domingo, uma das mais representativas é a literária, o que inclusive nos rendeu o título de Atenas Brasileira. Para que essa forte característica continue em evidência, a Prefeitura realiza anualmente a Feira do Livro de São Luís (FeliS), maior evento literário do Maranhão. Esta semana anunciei a realização da sua 13ª edição, que ocorrerá de 11 a 20 de outubro no Multicenter Sebrae.

    A Feira do Livro é parte do calendário da cidade e todos os anos é aguardada ansiosamente pelos livreiros e escritores, por agregar um valor inestimável à produção literária local, e pela população, que tem fácil acesso ao que está sendo produzido no setor dentro e fora do país. E são por esses motivos que o público só cresce, mobilizando estudantes de todas as idades, intelectuais, famílias inteiras e todos que apreciam o mundo da leitura. Somente na edição do ano passado, foram cerca de 160 mil visitantes durante os 10 dias de programação, com cerca de 150 mil livros expostos de mais de 300 editoras e com mais de 500 atividades.

    A realização de uma feira literária com essa grandiosidade é uma oportunidade ímpar de trazer para São Luís autores de renome nacional e promover uma série de atividades como lançamento de livros, palestras, rodas de conversa, conferências, seminários, plenárias, sessões de cinema, bate-papo literário, workshop, oficinas e minicursos, intervenções artísticas, espetáculos teatrais, performances poéticas, contações de histórias, apresentações culturais, exposições e visita de escritores a escolas da rede pública.

    Neste ano, mais uma vez a Feira do Livro será realizada no Multicenter Sebrae, espaço amplo que oferece comodidade aos visitantes. Para esta edição, estamos montando mais uma vez uma programação muito especial, com cerca de 600 atividades gratuitas e mais de 70 estandes de comercialização de livros. O patrono será Aluísio Azevedo, escritor nascido em nossa cidade, autor de obras marcantes da literatura brasileira, como O Mulato, datada de 1881. Ele se junta aos homenageados nos anos anteriores, como Graça Aranha, Maria Firmina dos Reis, Gonçalves Dias e Nauro Machado, entre outros importantes nomes da literatura não apenas brasileira, mas também mundial.

    A FeliS soma-se a todos os nossos esforços de incentivar diariamente a leitura em São Luís, com ampliação nas escolas do número de bibliotecas, minibibliotecas e girotecas, e a realização de atividades como os cantinhos da leitura, onde são disponibilizados exemplares infanto-juvenis e são realizadas rodas de leitura como forma de incentivar a prática dentro das unidade escolares e fora delas. Temos colhido frutos importantes desses investimentos, como a conquista do Troféu Baobá de Literatura, que reconhece nacionalmente iniciativas e personalidades que fortalecem as artes literárias e narrativas, contribuindo para a valorização do livro e o gosto pela tradição oral.

    Para além da característica pedagógica, a Feira do Livro de São Luís também se insere em uma cena cultural que há décadas esta cidade não vivenciava, onde todas as vertentes musicais, a poesia, a literatura, o teatro, entre outras, passaram a fazer parte do cotidiano do ludovicense. O evento se torna mais um importante espaço que a minha gestão tem ocupado com arte, cultura e entretenimento para todos. E é nesse clima de democratização do acesso à cultura, arte e ao conhecimento que estamos empenhados na realização de mais esta edição da FeliS.

  • Deu no D.O

    • A coluna Deu no D.O. está no ar com os generosos contratos dos nossos divinos gestores públicos. Dos caixões (R$ 214 mil) de Itapecuru-Mirim ao material de limpeza de Coroatá (R$ 2 milhões), ainda figuram Viana, Matões, Porto Rico e São José de Ribamar. 
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