O poeta maranhense Antonio Carlos Alvim, um dos membros da Academia dos Párias, grupo de poetas que agitou a cena cultural da cidade na década de 1980, estreia em livro com “Floresta de signos” da editora Pinalux. O lançamento será neste sábado, 21, no café Guará, no centro de São Luís.

Insurgente e instigante
(*) Fernando Abreu
Antonio Carlos Alvim já era um poeta pronto quando se juntou à Academia dos Párias, grupo
surgido nos corredores da Universidade Federal do Maranhão em meados da década de 1980. Em
comparação à maioria de nós, apresentava uma poesia madura e consciente de suas possibilidades.
Versado em Walt Whitman, com quem dialogava abertamente, nos apresentou o bardo
estadunidense. E ainda por cima era sobrinho de Ferreira Gullar. Credenciais portanto não lhe
faltavam.
Cerca de trinta anos se passaram e agora tenho a alegria de poder dizer algumas palavras sobre sua
estreia em livro. Não se trata de uma estreia tardia, porque as coisas acontecem quando e como
podem acontecer. Diria, sim, esperada, e muito, por dezenas de pessoas que o admiram desde
aqueles heroicos tempos boêmios.
Daquele tempo, por sinal, é boa parte dos poemas dessa coletânea, a exemplo da primorosa série
que abre o livro, inspirada na cidade histórica de Alcântara. Foi graças a poemas como esses que
Antonio Carlos Alvim ganhou o respeito não apenas de seus companheiros de viagem, a bordo da
lindamente insensata nau dos “párias”, mas de todos quantos tiveram a oportunidade de conhecê-los
e olhos vivos o bastante para apreciá-los.
Seria lamentável que essa produção (parte dela chegou a sair em um livrinho artesanal de alcance
limitado) ficasse para sempre confinada em algum lugar do passado. Por isso, essa estreia faz
justiça não somente ao artista, mas às centenas de leitores que de outra forma ficariam privados do
contato com uma poesia que tem, sim, muito o que dizer nesse aqui e nesse agora.
É tocante para quem viveu aqueles anos reler esses poemas, que surgem renovados em sua força.
Enfeixados lado a lado, eles vibram em cada página, ao lado de poemas mais recentes aos quais se
irmanam para compor um conjunto que é impossível ler sem envolvimento. Uma visão nutrida no
sentimento e na investigação dos mistérios da existência.
Antonio Carlos Alvim vem nos dizer que não perdemos o sentimento do mundo, apesar de todas as
provas forjadas em contrário. Nesse sentido é um insurgente, muito mais que um sobrevivente. Uma
insurgência lírica, filosófica e amorosa em favor da poesia e da vida, em todos as esquinas do
mundo onde quer que elas se cruzem.
(*) Fernando Abreu é poeta, autor de “Contra todo alegado endurecimento do coração” e “Manual
de Pintura Rupestre”, entre outros.
