O ex-diretor da Odebrecht, José de Carvalho Filho, durante delação onde afirma que pagou propina a Flávio Dino pela aprovação de um projeto, quando este era deputado federal
É impressionante a vibração e a alegria com que setores do atraso reagiram à citação do governador Flávio Dino na delação premiada da Odebrecht, em um discurso legitimador da canalhice (definição do jurista e professor Luiz Flávio Gomes) que considera a corrupção algo natural, comum e parte da tradição, cujo o único incômodo era o político comunista.
Pareciam pinto no lixo, como se agora ninguém podia lhes apontar o dedo!
Como se verdade fora a delação do ex-diretor da Odebrecht, José de Carvalho Filho, que acusa Flávio Dino de cobrar R$ 400 mil reais em troca da aprovação de um projeto de interesse da empresa, que tramitava na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal, do qual ele era o relator.
Preso pela Polícia Federal, o ex-diretor da empreiteira entra em parafuso e faz um depoimento premiado recheado de curvas e contradições, sem fatos concretos que possam sugerir alguma verdade sobre o donativo que teria sido solicitado pelo próprio Dino para abastecer o caixa 2 de sua campanha ao governo do Maranhão em 2010, conforme estranhamente delata
Documento que comprova que Flávio Dino não atuou em defesa do projeto da Odebrecht
Além de não dá parecer favorável pela aprovação, Flávio Dino tampouco indicou o seu substituto na relatoria – uma prerrogativa do presidente da CCJ – para dar celeridade ao projeto, que poderiam justificar o pagamento do suborno e servir de indícios da veracidade da denúncia.
Mas para aumentar o descrédito, José de Carvalho Filho não consegue explicar como se deu o repasse do dinheiro sujo, afirmando apenas a entrega de uma senha, que possibilitaria o recebimento da propina através do sistema conhecido como Drousys, coordenado pelo chefe – também preso pela Lava Jato – do Departamento de Operações Estruturadas, Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho, uma espécie de central criada pela Odebrecht para controlar e registrar as “retribuições”.
A delação entra em rosca quando o delator não soube dizer qual era essa senha, quem efetuou o pagamento, a quem ele foi endereçado e diminuiu a lambuja de R$ 400 mil para R$ 200 mil, de acordo com a gravação em vídeo do seu depoimento.
Tanta incoerência explica que embora envolva todo um complexo sistema de compensações, nenhum outro diretor da Odebrecht citou em suas delações premiadas o pagamento de propina para o atual governador do Maranhão; nem mesmo Hilberto Mascarenhas, que coordenava o famoso setor estruturante do faz-me-rir.
O histerismo e a sumária condenação midiática
O maior problema das delações premiadas não é a sua divulgação, mas a falta de jornalismo dos veículos de comunicação ao torná-las públicas como meros reprodutores das denúncias, sem buscar fatos que as comprovem e questionem se as delações compensam o interesse público ou o dos criminosos com a redução de suas penas.
Ao optar pelo oficialismo e não permitir à população o benefício da dúvida, a imprensa brasileira deixa de cumprir o seu papel e desvirtua o real valor da parceria com o Ministério Público; transformando o que seria um reforço em defesa da sociedade em uma ameaça ao cidadão que por má ventura venha a ser alvo de uma operação espetacularizada pela mídia, “sabotadora da razão e das garantias constitucionais”.
É o que acontece com a cobertura da lista do ministro Edson Fachin, que autorizou investigação das 74 “autoridades” com foro privilegiado citadas nas delações da Odebrecht, e encaminhou 201 outras às instâncias inferiores, para que decidam se merecem ou não serem investigadas.
Mas investigados ou ainda não, todos são condenados pela convicção de uma sociedade submetida a um noticiário dominado pelas delações premiadas, e o pequeno espaço reservado às defesas protocolares dos acusados.
Em artigo publicado no Balaio do Kotscho, o ex-ministro Nelson Jobim constata esse facciosismo raivoso e confirma Nietzsche para quem as convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras!