Enterro do corpo de João Gilberto será em Niterói

O corpo do cantor e compositor João Gilberto será velado até as 14h desta segunda-feira, 8, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Ele morreu no sábado, 6, aos 88 anos de idade, no Rio de Janeiro. A causa da morte ainda não foi divulgada.O velório é aberto ao público, enquanto o enterro, previsto para as 16h, no cemitério Parque da Colina, em  Niterói, deve ser restrito à família.

João Marcelo Gilberto, filho do cantor e compositor João Gilberto, não comparecerá ao velório. Segundo seu advogado, Gustavo Miranda, ele mora em Nova Jersey, nos Estados Unidos, e “está em processo de renovação de visto, além de passar por questões de saúde”. Já a filha do cantor, Bebel Gilberto chegou ao Rio, vinda dos EUA, no início da tarde de domingo.

Os últimos anos de vida do cantor e compositor João Gilberto foram marcados por disputas entre seus familiares, problemas de saúde e dívidas que chegaram a R$ 9 milhões.

O pai da Bossa Nova 

Por Julio Maria, O Estado de S.Paulo

Menino de Juazeiro da Bahia,  João Gilberto era filho do comerciante Juveniano Domingos e da católica Martinha do Prado, a Patu, João viveu em terras juazeirenses até 1942, aos 11 anos, quando seguiu para estudar em Aracaju. Juazeiro ainda o teria de volta quatro anos depois, quando o violão que o pai lhe deu começou a ganhar as primeiras carícias. A Rádio Nacional lhe trazia o mundo e João flutuava ao som de Orlando Silva, Dorival Caymmi, Chet Baker, Carmen Miranda. O primeiro grupo, Enamorados do Ritmo, veio logo, e Juazeiro ficou pequena.

A cidade que o recebeu na sequência teria sério papel na formação de seu caráter artístico. Aos 18 anos, em Salvador, já trabalhava com carteira assinada na Rádio Sociedade da Bahia. Não havia ainda desenhado o formato voz e violão, mas seguia os mandamentos de Orlando Silva tentando imitá-lo, por mais que o moderno já fossem Dick Farney e Lúcio Alves. O grupo vocal Garotos da Lua o chamou e lá se foi, gravar dois discos 78 rotações. 

O Rio fervia na segunda metade dos anos 50, e foi para lá que João seguiu, aos 26 anos, em 1957. Sem recursos, seguia a trilha de quem queria ser alguém com um violão sob o braço. Cantou para quem poderia lhe fazer diferença, como Tito Madi, mas teve mais sorte ao cair nas graças do produtor Roberto Menescal. 

O violão de João virava a vedete. Bim Bom, uma das primeiras que apresentou aos círculos de jovens músicos no Rio, já trazia elementos de novidade. A levada uniforme deslocando acentos fortes para lugares incomuns, a harmonia sugerindo caminhos pelos quais ninguém passava, a mão que fazia acordes fazendo também percussão. E a voz. A voz de João deixava as tentativas da impostação e partia para o naturalismo de Chet Baker quando cantava. Volume baixo e notas de longa duração, limpas, sem vibrato. Depois de acreditar no violão, João passava a ter fé no fio da própria voz.

E, então, fez-se a Bossa Nova. Era julho de 1958 quando Elizete Cardoso apareceu com o disco Canção do Amor Demais, com músicas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Ao violão, em duas das faixas, Chega de Saudade e Outra Vez, João Gilberto. Era só a ponta da cabeça de um baiano que se revelaria por inteiro um mês depois. Em agosto, João, já uma aposta de Tom Jobim, Dorival Caymmi e Aloysio de Oliveira, grava seu próprio 78 rotações com Chega de Saudade e Bim Bom, pela Odeon.

O que João fez, diminuindo as frequências da voz e do violão ao mesmo tempo em que estendia a harmonia, criou uma linguagem brasileira e, sobre ela, um novo gênero. Seguiu na formatação de sua proposta com Desafinado, de Tom e Newton Mendonça, e Hô-bá-lá-lá, de sua autoria. Chega de Saudade já o havia definido como um acontecimento. “Em pouquíssimo tempo, (João) influenciou toda uma geração de arranjadores, guitarristas, músicos e cantores”, escreveu Tom Jobim na contracapa do disco de 1959. Sessenta anos depois, não chegamos ainda ao tempo em que ele viveu. 

 

 

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