Para cada policial militar morto, dez pessoas devem morrer em resposta. Essa é a lei informal cobrada pelo deputado estadual Sargento Neri (Avante) em fala na Comissão de Segurança Pública e Assuntos Penitenciários da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). Praça da Polícia Militar paulista por 26 anos, ele cobrou o governo pela morte de três policiais na semana do dia 25 de junho, data de seu discurso.
“É uma vergonha nós perdermos três policial [sic], um garoto alvejado na cabeça, e não se fazer uma operação para matar dez. A resposta por um policial morto é dez ladrões mortos. É o mínimo”, cobra Neri, em vídeo publicado pelo repórter Luís Adorno, do Uol, e posteriormente analisado pela Ponte. “Da Polícia Militar que eu venho, nós não entregávamos a viatura para outra equipe enquanto não se pegasse o ladrão. Nós não faríamos o velório do policial enquanto não estivesse no necrotério o corpo do ladrão”, completa.
Sargento Neri é ex-professor da PM e critica o que chama de omissão do governador João Doria e do secretário da segurança por não mandar a corporação matar em resposta à morte de policiais: ‘eu formei aluno para matar e para sobreviver’
A lógica de Neri vem sendo seguida por parte da corporação nos últimos anos, quando policiais militares comprovadamente participaram de chacinas, como na maior ocorrida na história de São Paulo, com 23 mortos em Osasco, Carapicuíba, Itapevi e Barueri, cidades na Grande São Paulo, em 2015. A matança foi motivada pelas mortes de um PM e de um guarda civil, ocorridas dias antes. Três PMs e um GCM (Guarda Civil Municipal) foram condenados pelos crimes.
Esta mesma lógica baseou o revide do estado em seguida aos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) em 2006, ação que ficou conhecida como Crimes de Maio. À época, 59 agentes de segurança do estado foram mortos, enquanto 505 pessoas foram assassinadas no revide, que gerou uma ação civil pública do MP (Ministério Público) de São Paulo cobrando indenização do Estado às famílias das vítimas.
Na comissão, o deputado Neri considerou que a gestão do governador João Doria (PSDB) é omissa em relação à mortalidade de policiais, considerando que só se “faz operação para inglês ver”. Ainda criticou a atuação do secretário da Segurança Pública, general João Camilo Pires de Campos. Segundo ele, “de segurança pública, teoricamente, até Victor Hugo, que é meu filho com 12 anos, entende”.
