Só muita matracada: espetacularização e arremedo do bumba-meu-boi nos arraiais de São Luís

Boi se apresenta no palco e ao público só resta assistir e bater fotos
A cada ano a espetacularização do São João diminui o envolvimento da população com o bumba-meu-boi, especialmente o de matraca, ao deixar de brincar para assistir uma apresentação sob as luzes da ribalta, no qual só lhe cabe a condição de público e não de integrante do batalhão.
O que singulariza, apaixona e dá o devido valor às grandes manifestações populares é exatamente o fato de serem brincadeiras abertas, onde todos se divertem. No palco o bumba-meu-boi não passa de um arremedo!
E o pior, não empolga o turista que acaba incluindo o bumba-meu-boi como apenas mais um item na sua bagagem folclórica, mas sem o entusiasmo da descoberta que possa motivá-lo a voltar ou convencer os amigos a visitar o Maranhão.
Aliás, a espetacularização do bumba-meu-boi é uma tentativa de contribuir com a indústria cultural enquanto produtora de bens de consumo padronizados, na expectativa de alcançar o mercado nacional; a exemplo de Parintins, onde o boi bumbá muito mais se parece com um desfile de escola de samba com carros alegóricos, passistas e mulheres bonitas.
O resultado é a proliferação – por se enquadrar nesse formato – dos bois de orquestra em São Luís, se assim se pode chamá-los tal a modificação do ritmo, ausência de representatividade e de tradição popular, o que é bem diferente dos conjuntos de Axixá e outros municípios da região, nascentes desse sotaque.
Mas ao final, todos se igualam e caem no gosto popular, seja pela facilidade harmônica ou quantidade de pernas, independente da expressão de um modo de vida e qualidade de suas toadas. E mesmo assim, restritos ao período junino e fama passageira.

Batizado do Boi de Maracanã: esquecido pela programação oficial e celebrado por quem teve a oportunidade de vivenciar o bumba-meu-boi como uma autêntica festa popular
No batizado do Boi de Maracanã, um dos poucos que entre 23 e 24 de junho é batizado e se apresenta por horas a fio na própria comunidade, o que mais ocorreram foram declarações de turistas extasiados.
– Agora sim, estou vendo e entendendo porque o boi é maravilhoso – disse em seu português arrastado, entre pandeirões, fogueiras, matracas e tambores onça, o tcheco que conseguiu se identificar apenas como Jacob, que até então só tinha assistido, e considerado um pouco cansativa, a brincadeira nos palcos dos arraiais.
Sorte a dele, que recebeu a dica de um outro amigo que foi ao batismo na zona rural no ano passado, pois o poder público não divulga as cerimônias de batismo e tampouco promove ações junto às agências – estas em sua maioria também ignoram – para incluir em suas programações turísticas os batizados como uma das grandes atrações da véspera de São João.
No entanto, não é só o tablado que ameaça o boi de matraca enquanto paixão de todos, principalmente da classe média. Ao limitar o São João à segunda quinzena do mês de junho, os governos estadual e municipal não permitem que o jovem maranhense da capital seja seduzido por essa que é a nossa maior manifestação popular, ao incentivar a conhecê-la somente nos arraiais e em apresentações de no máximo uma hora.
Neste sábado, por exemplo, o Boi da Maioba, formado por centenas de pessoas, se apresentou no palco da Maria Aragão das 21 às 22 horas.
Que graça tem?

Suspende o veterinário que o boi vai dar sinal de vida: o tradicional encontro na capela de São Pedro é uma oportunidade de brincar, como se deve, e não assistir o bumba-meu-boi
Se o boi ainda pulsa no coração e na alma de muita gente deve-se ao meses de maio na década de 80, quando quem morava no centro e adjacências descia todos os sábados para os ensaios até o raiar do dia do boi da Madre Deus, assim como, de acordo com a proximidade de cada um, ia-se a treinos de outros batalhões.
Não é à toa que o cantor e compositor Sérgio Habibe em Eulália justifica não ficar para dormir, por ser levado pelo boi.
E profetiza:
“…Esse boi me leva
Eu não fico pra dormir
Vou ter com a madrugada
Me espalhar em qualquer dia
Eulália
Hoje mesmo
Eu não fico
Pra dormir nesse País
Que não amanhece
Nem acorda com meu boi…“
Hoje os ensaios ainda acontecem, mas não como parte oficial do São João, ao contrário do carnaval que inicia sua programação com apoio do governo nos primeiros sábados e domingos de janeiro, independente da data de entrega da chave da cidade ao Rei Momo.
Depois dos ensaios, os arraiais coroavam o tríduo junino.
Em todo o caso, suspende o veterinário porque o boi vai dar sinal de vida no São Pedro e São Marçal e assim manter a sua estrela na testa, quando volta a ser orgulhosamente popular.
Veja imagens de uma verdadeira festa popular promovida pela apresentação do Boi de Maracanã na festa do seu batizado na madrugada deste sábado, dia de São João
MUITO BEM LEMBRADO GRANDE GARRA !
MUITO BEM LEMBRADO GRANDE GRANDE GARRA !