Professor da Unicamp acusa Roberto Rocha de racismo por atribuir riqueza da região Sul à classe média europeia
O professor Matheus Gato, pós-doc do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas (IFCH-UNICAMP) publica artigo para confrontar o senador Roberto Rocha (PTB) (PTB), que na última segunda-feira, durante entrevista coletiva, justificou que o sul do país é mais rico do que o nordeste devido à presença da classe média europeia.
Segundo o sociólogo, autor de O Massacre dos Libertos (Ed. Perspectiva), atribuir o progresso ou o atraso a determinados grupos que ocupam uma região é próprio de quem possui uma visão racista e simplificada da história.
“Uma história simplificada, sem massacre indígena, sem opressão dos quilombolas, sem escravidão e a exploração econômica de amplas maiorias, ou melhor, uma história em que o “tipo de povo” do Maranhão talvez justifique todo esse conjunto de atrocidades.”., diz o artigo.
“Uma história feita sob medida para eximir a elite política maranhense, representada pelo Sr. Roberto Rocha, de qualquer responsabilidade sobre o destino do nosso estado”, acentua.
Roberto Rocha vai concorrer à reeleição para o Senado com apoio de 9 partidos bolsonaristas, inclusive o PDT.
Weverton, não precisa mais de desculpas de ir atrás de vacina no gabinete do ministro Queiroca.
Ele agora anda com uma foto de Bolsonaro guardada na carteira.
Aula Magma
O tipo de Roberto Rocha
Por Matheus Gato
O ponto fundamentalmente racista desse tipo de elaboração está em pensar o desenvolvimento social e as desigualdades regionais a partir do “tipo de povo” que teria ocupado cada uma das regiões do país.
Nessa demografia imaginária as fantasias acerca do “progresso” do sul e do “atraso” do nordeste emergem qualidades culturais atribuídas a determinados grupos, no caso em questão, aos impasses “europeu”, do homem branco, em cada lugar.
Uma história simplificada, sem massacre indígena, sem opressão dos quilombolas, sem escravidão e a exploração econômica de amplas maiorias, ou melhor, uma história em que o “tipo de povo” do Maranhão talvez justifique todo esse conjunto de atrocidades.
Uma história em que o problema é, primeiro a “cultura” com que “classes médias” vindas da Europa se defrontaram – uma das coisas mais aberrantes de se ouvir em termos historiográficos pois tratava-se de camponeses – depois, eles próprios, quando tentam levar a “civilização” e, talvez ganhar algum dinheiro merecido pelo esforço, para o interior do estado.
Uma história feita sob medida para eximir a elite política maranhense, representada pelo Sr. Roberto Rocha, de qualquer responsabilidade sobre o destino do nosso estado no conjunto da federação e também para esconder que pessoas como ele vivem bem melhor e gozam de muito mais privilégios que a classe média européia, seu parâmetro avaliação, tanto ao norte quanto ao sul do país.
Matheus Gato, professor do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas (IFCH-UNICAMP), é pesquisador do Núcleo Afro do Centro de Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) e Coordenador do Bitita: Núcleo de Estudos Carolina de Jesus (IFCH/UNICAMP). É doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo (2015) e realizou pós-doutorado na mesma instituição (2016-2019). Foi visiting fellow no Hutchins Center for African and African American Studies da Universidade de Harvard (2017-2018) . Seus principais temas de investigação são: racismo, classificações raciais, violência racial, intelectuais negros, literatura e pós-abolição
O autor dom grande livro ” O massacre dos libertos-sobre raça e república noBrasil” acerta em cheio no alvo. Explicações destinadas a livrar da responsabilidade histórica as nossas “elites” (hoje, até tenho dúvidas se existem elites, no sentido mais tradicional do termo, em nossa terra) só servem para desmascarar o desconhecimento completo que as tais “elites” demonstram: sequer sabem quem, de fato, colonizou estas terras.
Não podia passar sem o devido reparo tamanha ignorância.