Participação de Sarney em almoço de Bolsonaro foi em reconhecimento ao velho cúmplice da ditadura militar
Realmente não consegui entender o motivo de tanta euforia com a presença de Sarney no almoço que Bolsonaro ofereceu ao presidente da Argentina Mauricio Macri, como se isso fosse sinal de prestígio ou novidade, e não fosse comum a sua adesão a todos os presidentes nos últimos 49 anos.
Neste caso, no entanto, a sua aparição seja o reconhecimento dos militares ao velho cúmplice dos 20 anos de ditadura e o silêncio sepulcral que até hoje até ele mantém sobre as atrocidades praticadas pelo regime contra os brasileiros que resistiram ao golpe e sacrificaram a própria vida na defesa da democracia.
Mas uma coisa não se pode negar, Sarney sempre apontou a venta e o bigode para onde o vento sopra.
Fez carreira pulando de galho em galho, de acordo com as previsões do tempo.
A capacidade de antecipar as mudanças de estação o fez traçar sem a menor sombra de dúvidas a trajetória do poder.
Em 58 ao trocar o PSD pela UDN, deixou de ser suplente para conquistar 2 mandatos de deputado federal, e se aproximar do senador Luís Viana Filho, que viria a ser, com o golpe de 64, chefe de gabinete da presidência e a ponte que o levaria até o general Castelo Branco.
Iniciava aí os 20 anos de céu de brigadeiro, onde aproveitou para ser além de aliado, cúmplice de toda a hierarquia superior da ditadura com o objetivo de implantar e manter, como manteve por 40 anos, o seu domínio oligárquico no Maranhão.
De 64 a 84, ele portou-se com fidelidade “patriótica” com a tropa golpista, elegendo-se governador em 65 e duas vezes senador na década de 70. Nesse período, só faltou usar farda, tamanho os vínculos pessoais que estabeleceu com os quartéis, ignorar os porões e usufruir dos privilégios inerentes a todo regime de exceção.
Em 84 voltou a sentir o cheiro de mudança e colocou em prática o aprendizado da caserna, que militar não se esconde, se camufla. Abandonou a tropa e cerrou fileira com Tancredo Neves para disputar e vencer a eleição presidencial de 85 que, embora indireta, representava a reabertura do País.
Mas, como um lance de dados jamais abolirá o acaso, Tancredo morre antes de tomar posse e deixa Sarney sem pé, nem cabeça, por não possuir a mesma legitimidade democrática e popular para assegurar que um vice substituísse um presidente que oficialmente não teve a oportunidade de existir.
Contra as forças que se mobilizavam pela convocação de uma nova eleição ou que fosse dado posse ao presidente da Câmara, Ulysses Guimarães, conforme interpretavam a Constituição, coube a um velho amigo da ditadura, o general Leônidas Pires Gonçalves, garantir a faixa presidencial para o consagrado oligarca do nordeste brasileiro. .
Leônidas Pires foi o chefe do DOI-Codi do Rio de Janeiro responsável por comprar a traição de um militante comunista preso em 76 e enviar as informações para São Paulo, onde foi montada uma operação que culminou no assassinato de quatro dirigentes do então clandestino PCdoB, no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa.
Em troca da presidência, Sarney manteve ocultos os arquivos e as atrocidades da ditadura e nomeou Pires seu ministro do Exército.
Ao final de seu mandato, com exceção dos dois anos do governo Collor, ele foi aliado de todos os ocupantes do Planalto, independente das diferenças ideológicas entre um e outro.
Então, não foi à toa que em novembro de 2018 durante as comemorações dos 30 anos da Constituição de 88, Bolsonaro bateu continência para Sarney, e este se sentia tão à vontade no almoço que o capitão ofereceu ao presidente da Argentina Maurício Macri, na última quarta-feira.
Até parecia que estava fazendo um rancho na caserna.
Agora só falta aparecer com uma camisa estampada com a foto do coronel Brilhante Ustra!