Inspirado em Ciro Gomes, Neto Evangelista quer aplicar na política a mesma tática do FBI para interrogar terroristas
O deputado Neto Evangelista postou uma foto nas redes sociais fazendo pose com o livro Manual de Persuasão do FBI, escrito pelo ex-agente da Federal Bureau of Investigation Jack Schafer.
O livro ensina obter sucesso nas relações interpessoais aplicando as técnicas para entrevistar terroristas e descobrir quem está mentindo.
A editora Universo dos Livros diz que o manual é perfeito para quem quer pensar e reagir como os investigadores de TV do Criminal Minds ou CSI.
Evangelista ressaltou que “foi influenciado digitalmente por @cirogomes”.
Não seria mais interessante deixar esse negócio de influenciar, atrair e conquistar para a turma do marketing, e lê um livro sobre a importância da Política no enfrentamento dos problemas que atingem a sociedade brasileira e condenem os mais pobres à indignidade?
Lançado em 2015 com ampla campanha promocional, o livro é vendido como uma ferramenta importante na compreensão do comportamento humano e suas peculiaridades. Os resenhistas de plantão garantem que o trabalho de Jack Schafer é essencial na construção de novas amizades e na revitalização das velhas relações pessoais e amorosas.
O livro, no entanto, é um manual de canalhices e besteirol. O ex-agente fala de sua experiência, mostra o tanto que aprendeu com elas e, vejam só, dá dicas como enganar, usar e fazer os outros de bestas.
O sujeito se refere a pessoa a quem se quer conquistar, como alvo. A leitura simplista dos gestos e do comportamento humano chega a ser hilária, se não fosse triste.
Schafer dá dicas verbais e não verbais para ganhar a confiança e “influenciar determinada pessoa alvo”. Ele apresenta uma Regra de Ouro da Amizade que se aplica a todas as situações. Mas que na verdade revela o seu próprio mau-caratismo.
A fórmula infalível da amizade exclui sinceridade, fidelidade e o mínimo de senso ético. A Regra de Ouro é amizade = proximidade + frequência + duração + intensidade.
“Para influenciar outrem e fazer amizades é necessário explorar as quatro variáveis da fórmula”, diz o ex-agente. A intenção é fazer com que as pessoas se sintam bem em relação a você, para que você tenha o caminho aberto para seus objetivos.
Alguma dicas do Manual de Persuasão do FBI
Schafer imprime obviedades do começo ao fim de sua obra, que as resenhas promocionais traduzem de linguagem “leve e descontraída”.
A amizade nas palavras do ex-agente é a maneira com que consegue confissões ou traições. O manual cita operações onde são aplicadas a tal Regra de Ouro.
Uma delas foi a Operação Gaivota, que era o codinome de um diplomata estrangeiro de alto escalão. O FBI o considerava um recurso valioso, caso se tornasse espião para os Estados Unidos.
A amizade serviu de engodo para seduzir o diplomata. O problema é aplicar nas relações pessoais a mesma tática utilizada nas operações do serviço velado.
“Charles (o agente do FBI) precisaria dar passos específicos que, no fim das contas, tiveram sucesso. Os passos que Charles precisou seguir para ganhar a confiança do Gaivota são os mesmos que você deve tomar para desenvolver amizades de curto ou longo prazo”, diz o guru da dupla Ciro & Neto.
Schafer dá dicas de como se aproximar, como encarar, como enviar sinais amistosos e até mesmo como sorrir.
“Quando sorrimos para outras pessoas, é muito difícil que elas não sorriam de volta. Esse sorriso retribuído faz o alvo do seu sorriso sentir-se bem consigo mesmo […] se você fizer as pessoas se sentirem bem com elas mesmas, elas gostarão de você”, diz o manual.
Segundo Schafer, o único problema com o sorriso é que existem o sorriso real ou genuíno e falso ou forçado. O ex-agente ensina como ser falso e parecer genuíno.
Aplicar as táticas de um agente do FBI nas relações pessoais e, no caso da dupla Ciro & Neto, na política, é enganar o eleitor como a polícia engana o bandido.