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  • Crítica: Com ‘Roque Santeiro’, Zeca Baleiro dá esperança de renovação ao musical brasileiro

                          Atores do musical Roque Santeiro em cartaz em São Paulo

    POR NELSON DE SÁ

    Ilustrada/Folha de São Paulo

    Já se percebiam os primeiros sinais em sua “Paixão Segundo Nelson”, um ano atrás, mas agora Zeca Baleiro confirma ser uma esperança para o musical brasileiro, sempre às voltas com a ausência de compositores que compreendam o gênero.

    Faltam compositores vinculados à música popular brasileira, já alertava o diretor Wolf Maya em suas primeiras incursões no teatro musical, há três décadas.

    Baleiro cresce de maneira evidente, daquela adaptação de textos jornalísticos de Nelson Rodrigues para esta versão de Dias Gomes, ambas dirigidas por Débora Dubois. As músicas que compôs para as boas letras deixadas pelo dramaturgo são o melhor da montagem.

    Como em Sondheim ou Chico Buarque, saltam de um estilo para outro conforme a exigência cômica ou dramática de cada personagem ou quadro, sempre com qualidade.

    Conseguem mascarar, até certo ponto, a dramaturgia irregular original. Ainda assim, é difícil ultrapassar, por exemplo, a inverossimilhança da cena da morte de Roque ou a fragilidade de alguns papéis, mais para caricaturas.

    É o caso flagrante da “ingénue” vivida por Mel Lisboa, cuja presença de palco, já estabelecida noutros musicais, supera em muito a sua Mocinha. Mas nem todos os tipos criados por Dias Gomes são frágeis.

    Jarbas Homem de Mello tem a grande atuação da montagem como Chico Malta, em alguns momentos quase como uma homenagem a Lima Duarte, noutros muito diverso, menos “coronel” de novela dos anos 1970/80 e mais sensual, agressivo.

    Lívia Camargo não tem o carisma que Porcina requer, sobretudo em produção tão vinculada à novela, tão marcada por Regina Duarte. Embora tenha boas cenas cômicas a partir de meados da apresentação, o efeito é de sufocamento da personagem.

    Já Luciana Carnielli, como Matilde, a madame do bordel da cidade, é sarcasticamente envolvente e, a exemplo de Homem de Mello, explora bem a criação de Dias Gomes, ainda que não tenha como salvar a cena da morte do herói.

    O Cabo Roque do título, feito por Flávio Tolezani, tropeça num outro obstáculo renitente: as tentativas do autor de costurar mensagens próprias de seu engajamento à época —questionando a ideia de herói, o militarismo, a guerra.

    Soam fora de lugar, como enxertos, como efeitos de distanciamento enfiados numa telenovela.

    A encenação de Dubois abraça o que o texto tem de mais farsesco, abusando da comunicação direta com o público, geralmente bem-sucedida. Os figurinos também vão por aí, reforçando o caricatural.

    Já as poucas coreografias, que remetem às danças popularescas de programa dominical, são exasperantes.

    Refletindo o que “Roque Santeiro” tem de melhor, banda e elenco se integram pela música. Marco França, dividido entre os instrumentos e seu personagem, Toninho Jiló, é o coração do espetáculo.

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