Logo
  • Blog do Josias de Souza: ao desqualificar delator, Temer se autoincrimina

    O presidente Michel Temer durante pronunciamento no Palácio do Planalto a respeito das denúncias e áudios da delação da JBS. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

    Uma das características fundamentais da dificuldade de julgamento é ter que ouvir uma pessoa durante vários anos para chegar à conclusão de que ela não vale nada. Michel Temer conhece Joesley Batista há coisa de seis anos. Já esteve com o personagem incontáveis vezes. Só agora pecebeu que dava cartaz a um sujeito desonesto e mentiroso. Temer fez hora extra neste sábado para dizer ao país que o dono do Grupo JBS deveria estar preso, não passeando pelas ruas de Nova York. Temer atacou seu delator a pretexto de se defender. Não conseguiu senão autoincriminar-se.

    O presidente esteve com o salafrário pela última vez em 7 de março. Recebeu-o no palácio residencial perto de 11 da noite. Sem saber que falava com um grampo a domicílio, tratou-o com rara fidalguia. O inquilino do Jaburu só notou que o visitante tinha traços criminosos depois que virou um delatado. Ao conviver por tanto tempo com um corrupto, Temer revelou-se moralmente ligeiro. Incriminado pelo ex-amigo, mostrou-se intelectualmente lento. Qualquer uma dessas velocidades é um insulto. Nenhuma delas é compatível com o que se espera de um presidente da República. 

    Temer exibe sua indignação ao país em conta-gotas. Regula a dosagem de sua revolta à evolução dos fatos. Normalmente comedido, soou um tom acima. Em certos momentos, pareceu fora de si, tornando mais mais fácil enxergar o que tem por dentro. Na superfície, fez pose de presidente injuriado. Entretando, ao defender sua honra recriminando o delator, soou como se ecoasse a orientação que os criminalistas esculpiram no fundo de sua consciência:“Cuidado, você agora é um investigado. Dependendo do que disser, pode tornar-se réu.”.

    Temer escora-se em reportagem da Folha para desqualificar a gravação do diálogo vadio que manteve com seu algoz. “Li notícia de que perícia constatou que houve edição no áudio de minha conversa com o senhor Joesley Batista. Essa gravação clandestina foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos.” Pediu a suspensão do inquérito em que é acusado de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa.

    Do ponto de vista jurídico, a desqualificação do áudio é o melhor remédio para quem, como Temer, busca livrar-se do afogamento. Ao enviar a gravação ao Supremo Tribunal Federal sem submetê-la a uma perícia minuciosa, o procurador-geral da República Rodrigo Janot ofereceu boa matéria-prima para o esperneio do acusado. Como se fosse pouco, Janot e seus pares deram à turma do JBS um prêmio incompatível com a moralidade. Não há delação que justifique o escárnio de tratar a pão de ló quem merece o pão que Asmodeu amassou. 

    O diabo é que, do ponto de vista político, a reação de Temer é ineficaz. Para quem está afundando, um jacaré parece tronco. Mas a essa altura a fita de Joesley não passa de um detrito no monturo que se formou na porta do gabinete presidencial. A mera desqualificação do áudio não é suficiente para restaurar os danos.

    Ironicamente, o próprio Temer mostrou que a gravação que ele se esforça para desqualificar não é de todo inservível. Fez isso ao ressaltar “as incoerências entre o áudio e o teor do depoimento” de Joesley à Procuradoria. “O que ele fala no seu depoimento não está no áudio. E o que está no áudio demostra que ele estava insatisfeito como meu governo”, disse Temer.

    Continue lendo Aqui

    2 comentários para “Blog do Josias de Souza: ao desqualificar delator, Temer se autoincrimina

    1. Santos disse:

      Temer, Lula, Sarney, FHC, Aécio é tudo farinha do mesmo saco. TODOS NA CADEIA
      https://www.facebook.com/BolsoM1LGR4U/videos/1697099240592434/?pnref=story

    2. Pedro de Paula Lopes disse:

      Será que as latrinas de Roma chagaram ao Planalto? Temer se importará com o odor do dinheiro sujo? Ou vale a velha máxima de Vespassiano: “dinheiro não fede”.. Mas vale perguntar, ele terá como enforcar os corruptos, para que os recursos volte ao erário?

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  • Deu no D.O

    • A coluna Deu no D.O. está no ar com os generosos contratos dos nossos divinos gestores públicos. Dos caixões (R$ 214 mil) de Itapecuru-Mirim ao material de limpeza de Coroatá (R$ 2 milhões), ainda figuram Viana, Matões, Porto Rico e São José de Ribamar. 
  • Fale com o Garrone

    (98) 99116-8479 raimundogarrone@uol.com.br
  • Rádio Timbira

    Rádio Timbira Ao Vivo