A Banca do Enforcado, o show de Athos e Ângelo e as reminiscências de uma São Luís delirante e afiada
Nos entremeados do final dos anos 80 e em alguma parte dos 90, São Luís se misturava e se mostrava delirante e afiada, militante e sarcástica, Badauê e Gargalo, Arthur Azevedo e Pirapora, as pedras da Ponta d’Areia e as ondas do São Marcos, a Escola de Música e o mirante do professor Marcelo.
O encontro de Atho Li e Ângelo Passos é simbólico no que coloca em cena uma juventude germinada no rock-in-rol dos mutantes, Hendrix, Black Sabbath, nos cogumelos de Igarapé e de umas tardes de domingo na Praia do Coqueiro, a nossa Woodstock por aventura de um produtor chamado Jorge Capadócia.
Se os roqueiros saíam das garagens do Renascença, um público vestido de preto saia da periferia. Entre dreads e bate-cabeças, surgia a hoje produtora Ópera Night. Invadiram não só a praia, mas o Nazeu Quadros, museu da Universidade Federal do Maranhão, paralelo ao Beco do Teatro.
Justiça Salomónica
Por Sino*
Essas fotos aí são do último dia do São Luís Rock Show. Essa banda é a nossa Loucura Elétrica (Márcio “Major” nos vocais, Ricardo Braga no Baixo, Avilásio na guitarra solo, Ricardo “Gordo” (meu irmão) na guitarra base e eu na batera.
A Ruminando Cogumelos tocou no mesmo dia. Tinham sido escolhidos como “banda revelação”, mas a gente ainda não havia tocado. Quando terminamos o show, Jorge Capadócia deu “empate” para as duas (Ruminando e Loucura).
A Ruminando, se não me engano, eram Athos – guitarra, Marcelo-baixo e Ângelo-bateria. Se tinha mais algum integrante, não lembro.
*Sino é bacharel em Direito e funcionário do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. É formado pela Universidade Federal do Maranhão e ouvinte de boa música
Amigos há mais de 30 anos, Athos e Ângelo integraram a banda Ruminando Cogumelos, do rock psicodélico sessentista ao jazz tradicional acústico.
Batia!
Do Mississipi ao rio Anil, o show desta noite é um instrumental, com molde de improviso e um certo carteado do tarô.
“A banca do enforcado”, inspirado no arcano XII do tarô de Marselha (símbolo de uma mudança de perspectiva, de olhar o mundo sob outros ângulos), é o nome tanto de um trabalho autoral de Athos Li, iniciado sob o influxo do projeto “Maranaguaras”, quanto de uma banca, propriamente dita, de leitura e interpretação de tarô.
Em junho de 2022, eles retomaram a parceria musical ao participarem da gravação do projeto “Maranaguaras”, ao lado de Pablo Habibe (guitarra) e Vicente Belaglovis (piano).
A proposta de apresentação, em duo, significa, primeiramente, um reencontro: Athos e Ângelo não tocam juntos em público há aproximadamente 20 anos.
“Em princípio, a ideia é criar uma ambiência sonora intimista por meio de um diálogo espontâneo e improvisado do começo ao fim, sem limitações de estilo, entre os dois instrumentos (guitarra e bateria) a partir de releituras não ensaiadas de melodias familiares, uma troca de impressões e memórias afetivas musicais”, enfatizou Athos Li.
É aproveitar a viagem e embarcar pelo rock e outras lembranças, dentre elas a de Jorge Capadócia. A nossa homenagem.