Carta a Bolsonaro sobre sanguinário ditador Bin Salman, da Arábia Saudita
Por Guga Chacra
Caro presidente Jair Bolsonaro, o senhor disse que “todo mundo gostaria de passar uma tarde com um príncipe. Especialmente vocês, mulheres, né? Tenho uma certa afinidade com o príncipe”.
Primeiro, o príncipe saudita Mohammad bin Salman não é um monarca constitucional, como o príncipe Charles, do Reino Unido. É um ditador sanguinário. Em segundo lugar, Bin Salman, segundo os serviços de Inteligência de uma série de países, incluindo o dos Estados Unidos, mandou matar e esquartejar o jornalista Jamal Khashoggi, do Washington Post, dentro do consultado saudita em Istambul.
Terceiro, Bin Salman impõe apartheid contra as mulheres e membros da comunidade LGBTQ dentro da Arábia Saudita. Alguns argumentam que ele tem liberalizado, ao permitir que “mulheres dirijam” (até o Irã e o Afeganistão permitem). Ao mesmo tempo, além de tratá-las como cidadãs de segunda classe, mantém presas ativistas pelos direitos das mulheres como Samar Badawi. Os membros da comunidade LGBTQ são perseguidos pelo regime e relações entre pessoas do mesmo sexo é crime que pode levar à pena de morte.
Quarto, Bin Salman comanda uma ditadura que proíbe a prática do judaísmo e do cristianismo. Igrejas e sinagogas são proibidas. O mesmo vale para templos evangélicos. O senhor e a sua mulher não poderiam ser cristãos se fossem sauditas. Noto que os xiitas também são perseguidos no país.
Quinto, Bin Salman apoia grupos armados jihadistas na Guerra da Síria. O regime comandado pela família dele, ao longo das últimas décadas, difundiu a ideologia jihadista pelo mundo, adotada pela al-Qaeda, Estado Islâmico, al-Shabab, Boko Haram e Talibã.
Sexto, Bin Salman comete crimes contra a Humanidade na Guerra do Iêmen, onde seu regime já bombardeou casamentos, funerais, escolas e ônibus escolares, além de ter imposto um bloqueio que levou à morte de milhares de pessoas.
Por último, o senhor não vê problema em “passar uma tarde” com um príncipe (ditador), mas repudia o recém-eleito Alberto Fernandez, futuro presidente da democrática argentina. Argumenta que a Arábia Saudita é importante para o comércio brasileiro, mas ignora que a Argentina tem uma importância ainda maior.
É simplesmente repugnante elogiar Bin Salman. Há um limite para a tolerância. Bin Salman é um ditador do patamar de Saddam Hussein. A Arábia Saudita consegue estar bem atrás de Cuba, Irã e Venezuela em todos os rankings de democracia. Nunca mais ninguém te levará a sério quando criticar os regimes ditatoriais em Havana, Caracas e Teerã. Elogiar Bin Salman não é apenas fazer apologia a um ditador. É fazer apologia a um homicida sanguinário.
Noto que é extremamente repugnante dizer que “mulheres” queiram passar uma tarde com este assassino Bin Salman, que as trata pior do que animais.