Encontro do PT que decidiu excluir Eliziane Gama do apoio do partido à chapa majoritária do governador Flávio Dino
Ao decidir não apoiar a candidatura da deputada federal Eliziane Gama (PPS) ao Senado por considerar a parlamentar golpista por ter votado pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, o PT do Maranhão pode contribuir para eleger Sarney Filho (PV) ou Édson Lobão (PMDB) que não só apoiaram, mas deram continuidade ao golpe com irrestrito apoio ao governo Michel Temer (PMDB).
A deputada do PPS é peixe pequeno diante dos mares nebulosos por onde navega a dupla, e desta se diferencia por mudar de rota ao votar pelo prosseguimento da denúncia de organização criminosa e obstrução de Justiça promovida pela Procuradoria-Geral da República contra o presidente que afundou o País, e pelo voto contrário à reforma trabalhista que colocou por água abaixo direitos assegurados há 80 anos pela CLT.
Eliziane Gama: realinhamento às causas populares depois de apoiar o golpe contra Dilma Rousseff
Filho do ex-senador José Sarney, principal conselheiro e irmão da ex-governadora Roseana Sarney, a musa do golpe, Sarney Filho não nega o próprio sangue e foi ministro do meio-ambiente até o limite da lei eleitoral com o mesmo servilismo do seu genitor ao comandante de plantão, independente dos meios utilizados para ocupar o maior posto da República.
A medida de sua devoção pode ser calculada em 2017, quando embarcou de volta à Câmara Federal somente para utilizar o lastro do seu ministério e salvar o seu chefe obtendo votos pelo arquivamento da denúncia da PGR.
Se o herdeiro da oligarquia salvou o patrão, Lobão lançou âncora no Senado em defesa dos projetos do governo para atender os interesses do capital, que combinam privatizações e entreguismo das riquezas naturais com medidas contra a rede de proteção aos mais pobres e o direito dos trabalhadores, previstos na CLT.
É neste sentido que é importante o PT distinguir não apoiar, conforme decisão democrática de seus militantes, de fazer campanha contra. Do contrário, a justificativa da rejeição da candidata da coligação da qual o partido faz parte, não passará de uma desculpa para um contragolpe para atingir a chapa do governador Flávio Dino (PCdoB) em proveito da família Sarney.
Novos horizontes
Compreender que com as votações na Câmara, Eliziane tem demonstrado um certo realinhamento de sua postura política com as causas populares ameaçadas pelo golpe instaurado em 2016, permitiria ao partido ter uma postura crítica sem se furtar ao diálogo na perspectiva de conquistar uma aliada contra o retrocesso do País.
Os petistas maranhenses não podem confundir a grandeza do ex-presidente Lula no Maranhão com a do partido no estado
Ao ampliar o alcance dos olhos, os petistas poderiam até mesmo firmar um acordo e aceitar a segunda suplência com a garantia da vaga no Senado em casos de aprovações ou discussões de propostas de interesse do partido, nas quais Eliziane se considere impedida por determinação política do PPS ou por não querer contrariar o seu eleitorado religioso, com questões inerentes a um Estado laico.
A possibilidade de ocupar o Senado, mesmo que de maneira intermitente, já seria uma conquista real sem a dimensão fantasiosa dos que confundem a grandeza do ex-presidente Lula com a do partido no estado.
Durante os quatorze anos que o PT ocupou a Presidência da República e promoveu a saída de milhões pessoas da extrema pobreza, a legenda no Maranhão só conseguiu, e quando conseguiu, eleger um deputado federal, um estadual (excepcionalmente dois em 2014) e um vereador por Legislatura.
Os números, no entanto, não impediram que setores do PT continuassem acreditando na transferência de votos e, sem colocar os pés no chão, não partiram para formar uma ampla e plural rede de apoio, seja com partidos, seja com a sociedade, condições mínimas a quem pretende disputar uma eleição majoritária com chances de vitória.
Nenhuma liderança do partido se movimentou suficientemente neste sentido, como fizera Eliziane Gama que só teve confirmada sua candidatura na chapa do governador Flávio Dino (PCdoB) em março deste ano, depois que várias pesquisas apontaram a sua capilaridade junto ao eleitorado.
Pragmatismo eleitoral
Os petistas maranhenses – e o próprio Lula já provou isso ao se aliar com o PMDB em 2002 – precisam superar o ego travestido do maniqueísmo que carimbou a trajetória do partido na década de 80, caso resolva vencer uma eleição e ampliar o seu espaço de poder, e não somente marcar posição, que teve sua importância à época em que os mandatos eletivos eram um privilégio da elite, inconcebível aos torneiros mecânicos da vida.
Encontro do PT do Ceará que decidiu barrar a reeleição do senador José Pimentel, favorecendo a aliança do governador Camilo Santana com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB)
Por maior que seja, a probabilidade de vitória não assegura o resultado das urnas. É fundamental não subestimar os adversários e compor o maior plantel possível de aliados e até mesmo cortar na própria carne, mas sem vender sua alma ao diabo, como fizeram os governadores do PT no Piauí, Wellington Dias, e no Ceará, Camilo Santana.
Candidatos à reeleição a seus respectivos governos, os dois foram além do imaginado ao impedir a reeleição de senadores do próprio partido para atrair políticos com digitais nas linhas de frente do golpe e dos atentados aos direitos dos trabalhadores e da população que depende do serviço público.
No Piauí, a senadora Regina Sousa do PT teve que desistir de seus planos de reeleição e se contentar em concorrer como vice. As duas vagas ao Senado na chapa majoritária de Wellington Dias foram destinadas ao deputado federal Marcelo Castro (PMDB), e ao senador Ciro Nogueira (PP). Este, inclusive, além de sustentáculo do golpe, é eleitor de Alckmin para presidência.
Já no Ceará, o senador José Pimentel foi colocado no paredão não por ordem isolada do governador Camilo Santana, mas pela maioria do PT cearense (200 votos a 70), que decidiu não indicar candidato, e abrir espaço na chapa majoritária para o presidente do Senado, Eunício de Oliveira (PMDB), uma espécie de capitão do mato de Michel Temer, que submete a maioria dos brasileiros aos interesses do capital internacional.
Nestes casos é como diz o velho chiste: Piauí e Ceará, pior serão!